Páginas

domingo, 1 de janeiro de 2012

Carnaval 2012: apenas menor nota será descartada


Segundo a Liesa, Liga Independente das Escolas de Samba, cada quesito contará com a análise de 4 jurados e não 5, como era anteriormente, e somente as menores notas serão descartadas, prevalecendo as 3 maiores. 
As notas que variavam de 8,0 a 10,0 com decimais passarão a ser de 9,00 a 10,0, e em perído experiamental, cada 1 dos 40 julgadores poderão dar 0,1 de bonificação por quesito para 1 agremiação. Estes bônus serão divulgados junto com as justificativas das notas.

Fonte: SRZD 

São Clemente recebe o Cirque de Soleil em seu barracão

Nesta terça-feira, às 11h, o barracão da Escola de Samba São Clemente, na Cidade do Samba, vai receber convidados especiais: um grupo de artistas integrantes do Cirque Du Soleil, a mais celebrada companhia circense do mundo, em cartaz na cidade com o espetáculo “Varekai”, vai conhecer de perto a magia do carnaval. Uma semana antes de encerrar sua temporada na cidade, o elenco do Cirque, famoso por seus espetáculos que se destacam pelas grandes produções visuais, estará cara a cara com “o maior espetáculo da terra” – eles verão em primeira mão alegorias e fantasias, e de quebra, recepcionados por passistas e ritmistas, receberão uma aula de samba.

Única escola da Zona Sul a desfilar no Grupo Especial do carnaval carioca, a São Clemente, que completou 50 anos em outubro de 2011, transformará o sambódromo em 2012 no cenário do maior espetáculo musical já montado no Brasil.

Fonte: Carnavalesco

Samba Enredo Beija Flor 2012



Autores: J.Veloso, Adilson China, Carlinhos do Detran, Samir Trindade, Serginho Aguiar, JR Beija-Flor, Silvio Romai, Hugo Leal, Gilberto Oliveira, Ricardo Lucena, Thiago Alves e Romulo Presidente.

Tem magia em cada palmeira que brota em seu chão
O homem nativo da terra
Resiste em bravura
A dor da invasão
Do mar vêm três coroas
Irmão seu olhar mareja
No balanço da maré
A maldade não tem fé sangrando os mares
Mensageiro da dor
Liberdade roubou dos meus lugares
Rompendo grilhões, em busca da paz
Na força dos meus ancestrais

Na Casa Nagô a luz de Xangô axé
Mina Jêje em ritual de fé
Chegou de Daomé, chegou de Abeokutá
Toda magia do Vodun e do Orixá

Ê rainha o bumba-meu-boi vem de lá
Eu quero ver o Cazumbá, sem a serpente acordar
Hoje a minha lágrima transborda todo mar
Fonte que a saudade não secou
Ó Ana assombração na carruagem
Os casarões são a imagem
Da história que o tempo guardou
No rádio o reggae do bom
Marrom é o tom da canção
Na terra da encantaria a arte do gênio João

Meu São Luís do Maranhão
Poema Encantado de Amor
Onde canta o sabiá
Hoje canta a Beija-Flor

Samba Enredo Unidos da Tijuca 2012



Autores: Vadinho, Josemar Manfredini, Jorge Callado, Silas Augusto

Nessa viagem arretada
“Lua” clareia a inspiração
Vejo a realeza encantada
Com as belezas do Sertão!
“Chuva, sol” meu olhar
Brilhou em terra distante
Ai que visão deslumbrante, se avexe não!
Muié rendá é rendeira
E no tempero da feira
O barro, o mestre, a criação!

Mandacaru a flor do cangaço…
Tem “xote menina” nesse arrasta pé
Oh! Meu Padim, santo abençoado
É promessa eu pago, me guia na fé

Em cada estação, a “triste partida”
Eu vi no caminho vida severina
Á margem do Chico espantei o mal
Bordando o folclore raiz cultural…
Simbora que a noite já vem, “saudades do meu São João”
“Respeita Véio Januário, seus oito baixo tinhoso que só”
“Numa serenata” feliz vou cantar
No meu pé de serra festejo ao luar…
Tijuca a luz do arauto anuncia
Na carruagem da folia, hoje tem coroação!

A minha emoção vai te convidar
Canta Tijuca vem comemorar
“Inté asa branca” encontra o pavão
Pra coroar o “Rei do Sertão”

Samba Enredo Mangueira 2012



Autores: Lequinho, Igor Leal, Junior Fionda e Paulinho de Carvalho

Salve a tribo dos bambas
Um doce refúgio de inspiração
Salve o novo Palácio do Samba onde um simples verso se torna canção
Debaixo da tamarineira um índio guerreiro me fez recordar
Um lugar, um berço popular
Seguindo com os pés no chão
Raiz que se tornou religião
Da boêmia dos antigos carnavais
Não esquecerei jamais

Firma o batuque
Que eu quero sambar (Me leva)
Já começou a festa
Esqueça a dor da vida
Caciqueando na Avenida

Sim, vi o bloco passando
O nobre rezando e o povo a cantar
Sim, é o nó na garganta
Ver o Bafo da Onça a desfilar
Chora, chegou a hora eu não vou ligar
Minha cultura é arte popular
Nasceu em ‘Fundo de Quintal’
Sou imortal e eu vou viver
Agonizar não é morrer
Mangueira fez o meu sonho acontecer
O povo não perde o prazer de cantar
O povo liberto que a voz ecoou
Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou

Vem festejar
Na palma da mão
Eu sou o samba, a voz do morro
Não dá pra conter tamanha emoção
Cacique e Mangueira num só coração

Samba Enredo Vila Isabel 2012



Autores: Arlindo Cruz, André Diniz, Evandro Bocão, Leonel e Artur das Ferragens

Vibra óh minha vila
A sua alma tem negra vocação
Somos a pura raiz do samba
Bate meu peito à sua pulsação
Incorpora outra vez kizomba e segue na missão
Tambor africano ecoando, solo feiticeiro
Na cor da pele, o negro
Fogo aos olhos que invadem,
Pra quem é de lá
Forja o orgulho, chama pra lutar

Reina ginga ê matamba vem ver a lua de luanda nos guiar
Reina ginga ê matamba negra de zambi, sua terra é seu altar

Somos cultura que embarca
Navio negreiro, correntes da escravidão
Temos o sangue de angola
Correndo na veia, luta e libertação
A saga de ancestrais
Que por aqui perpetuou
A fé, os rituais, um elo de amor
Pelos terreiros (dança, jongo, capoeira)
Nasci o samba (ao sabor de um chorinho)
Tia ciata embalou
Com braços de violões e cavaquinhos a tocar
Nesse cortejo (a herança verdadeira)
A nossa vila (agradece com carinho)
Viva o povo de angola e o negro rei Martinho

Semba de lá, que eu sambo de cá
Já clareou o dia de paz
Vai ressoar o canto livre
Nos meus tambores, o sonho vive

Samba Enredo Salgueiro 2012



Autores: Marcelo Mota, Tico do Gato, Ribeirinho, Dilson Marimba, Domingos PS e Diego Tavares

Sou “cabra da peste”
Oh minha “fia”, eu vim de longe pro Salgueiro
Em trovas, errante, guardei
Rainhas e reis e até heróico bandoleiro
Na feira vi o meu reinado que surgia
Qual folhetim, mais um “cadim, vixe Maria!”
Os doze do imperador
Que conquistou o romanceiro popular
Viagem na barca, a ave encantada
Amor que vence na lenda
Mistério pairando no ar

Cabra macho justiceiro
Virgulino, é Lampião!
Salve, Antônio Conselheiro
O profeta do sertão

Vá de retro, sai assombração
Volta pra ilusão do além
No repente do verso
O “bicho” perverso não pega ninguém
Oh meu “Padinho”, venha me abençoar
Meu santo é forte, desse “cão” vai me apartar
Quero chegar ao céu num sonho divinal…
É carnaval! é carnaval!
Salgueiro, teus trovadores são poetas da canção
Traz sua côrte, é dia de coroação
Não se “avexe” não

Salgueiro é amor que mora no peito
Com todo respeito, o rei da folia
Eu sou o cordel branco e encarnado
“Danado” pra versar na Academia

Samba Enredo Imperatriz Leopoldinense 2012



Ave, Bahia sagrada!
abençoada por oxalá!
o mar, beijando a esperança,
descansa nos braços de Iemanjá.
menino amado…
destino bordado de inspiração.
iluminado…
vestiu palavras de fascinação.

Olha o acarajé! quem vai querer?
temperado no axé e dendê
quem tem fé vai a pé… vai, sim!
abrir caminhos na lavagem do bonfim

O vento soprou
as letras em liberdade.
joga a rede, pescador!
o povo tem sede de felicidade.
a brisa a embalar
histórias que falam de amor.
memórias sob o lume do luar.
o doce perfume da flor.
ê Bahia! ê Bahia!
dos santos, encantos, magia.
Kaô Kabesilê! ora iê iê Oxum!
tem festa no Pelô.
na ladeira, capoeira mata um.

Sou Imperatriz! sou emoção!
meu coração quer festejar!
ao mestre escritor, um canto de amor
Jorge Amado, saravá!

Samba Enredo Mocidade 2012



Diego Nicolau, Gabriel Teixeira e Gustavo Soares

Eu guardei em mim
a mais linda inspiração
pra exaltar em tua arte
a brasilidade de sua expressão
desperta, gênio pintor
mostra seu talento, revela o dom
deixa a estrela guiar
faz do firmamento, seu eterno lar
solto no céu feito pipa a voar
quero te ver qual menino feliz
planta a semente do sonho em verde matiz

Emoção me leva
livre pincel a deslizar
vou navegar, desbravador
um errante sonhador

Voar pelas asas de um anjo
num céu de azulejos, pedir proteção
vida de um retirante
no sol escaldante que queima o sertão
moinhos vencer, histórias de amor
riscar poesias em lápis de cor
você que do morro fez vida real
pintou nossos lares num lindo mural
você, retratando a alma, se fez ideal
meu samba canta mensagens de “guerra e paz”
seu nome será imortal em nosso carnaval

É por ti que a Mocidade canta
Portinari, minha aquarela
rompendo a tela, a realidade
na voz da minha Mocidade

Samba Enredo Porto da Pedra 2012




Autores: Fernando “Macaco”, Tião Califórnia, Cici Maravilha, Bento, Denil e Oscar Bessa

Poema à vida e ao seio jorrando amor
A seiva materna,
Meu Porto da Pedra alimentou
Hera tece o caminho das estrelas
A loba mãe amamentou o grande império
Mistério no desperto da solidão
O mercador viu a transformação
Do leite em primeiro iguaria
A fé se envolveu e foi saborear
Na história, a humanidade vive a cultuar
Na dádiva que fez o animal sagrado
Fermentou fartura e saber
Fonte rica de prazer

No calor dessa receita, deixa coalhar
A combinação perfeita ao paladar
A essência é derivada à mistura dos sabores
É no mel que se adoça a magia dessas cores

Seguiu o alimento vencendo batalhas
Esse doce sabor pelo mundo
Com o tempo rompendo muralhas
Brilhou à luz da civilização
Pelos mares navegou
Embalando a evolução
Está em cada mesa, é gosto singular
Dá nome à sobremesa popular
E ativa as funções vitais
Leveza, o equilíbrio se traduz em beleza
Do dia a dia me refaz
Yogurte é leite, tem saúde e muito mais

Vem no ritmo do Tigre de São Gonçalo
Alimenta seu povo apaixonado
Cada porção traz um cuidado especial
Para o deleite e a emoção no carnaval

Samba Enredo São Clemente 2012



Ricardo Góes, Vânia, Serginho Machado, FM, Marcos Antunes, Grey, Guguinha, e Flavinho Segal.

Prepare o seu coração
é pura emoção
a sirene acabou de tocar(u-lá-lá)
a orquestra começou
e entoou o meu cantar
um violino anuncia
vem viajar na magia
do meu cabaré, com samba no pé
vem exibir, pode aplaudir
será que é sonho meu?
“sucesso aqui vou eu”

Põe a máscara pra mim
vem comigo a hora é esta
não sei viver sem você
és o artista, faz a nossa festa

De tudo aconteceu
puxa! aqui paris é avenida
hoje o malandro sou eu
vi a tristeza feliz da vida
dei um susto o fantasma sumiu(búuu)
sou irreverente
se o samba empolgou, virou carnaval
nossa aventura musical
noviça dançou, ao som da canção
e conquistou meu coração…

Tem bububu no bobobó
sem sassarico é o “ó”
bumbum de fora, pernas pro ar
bravo !!! a São Clemente vai passar

Samba Enredo Grande Rio 2012



Autores: Edispuma, Licinho Jr., Marcelinho Santos & Foca

A luz que vem do céu
Brilhou no meu olhar
Trazendo a esperança
Que os anjos vêm anunciar
Lutar sem desistir
Das cinzas renascer
Eu encontrei na fé
A força pra vencer
A felicidade mandou avisar
É preciso superar

Derrubar o “gigante” eu vou
É lição de coragem e amor
Eu sou “guerreiro do bem” vou caminhar
A minha história vai te emocionar

A arte de viver…
É aprender no dia a dia
Usando a imaginação
Ao som da melodia
Posso enxergar…
Sei que meu coração vai me guiar
Eu sigo em frente sem desanimar
Em Parintins um grande “festival”
Acreditar que prá sonhar não há limitações
A “roda gira” e traz a solução
Me dê a sua mão por liberdade
Sou brasileiro mandei a tristeza embora
Eu “to” sentindo que chegou a nossa hora

Quem me viu chorar … vai me ver sorrir
Eu acredito em você… pro desafio
E abro o meu coração, cantando a minha emoção
Superação é o carnaval da Grande Rio.

Samba Enredo Portela 2012



Autores: Luiz Carlos Máximo e Wanderley Monteiro, com Naldo e Toninho Nascimento

Meu rei
Senhor do Bonfim alumia
Os caminhos da Portela
Que eu guardo no meu patuá
Eu vim com a proteção dos meus guias
Com Clara Guerreira à Bahia
Cheguei, eu cheguei pra festejar
Deixa levar, nos altares e terreiros
Tem jarro com água de cheiro
Vou jogar flores no mar

No mar
Procissão dos navegantes
Eu também sou almirante
De nossa Senhora Iemanjá

Vou no gongá
Bater tambor
Rezo no altar
Levo o andor
Vem chegando os batuqueiros
Desce a ladeira meu amor
Que a patuscada começou
Eu vim pra rua
Que o samba de roda chegou

Iaiá
De saia rendada em cetim
Bota o tempero na festa
Oi, tem abará e quindim

Portela cheia de encantos
Acolhe a bahia em seu canto
De festas, rezas, rituais
Vestido de azul e branco
Eu venho estender o nosso manto
Aos meus santos do samba que são Orixás

Madureira sobe o Pelô… Tem capoeira
Na batida do tambor… Samba ioiô
Rola o toque de olodum… Lá na Ribeira
A Bahia me chamou

Samba Enredo União da Ilha 2012



Uma história vou contar
Tem lendas,mitos e magias
Era uma ilha...onde um povo valente vivia
E um grande império conquistou
Virou cidade das realezas
O reino unido e seus heróis
"Peguem as armas" diz a voz
De um santo guerreiro,
Os bravos vão lutar, cruzar fronteiras
Com sua fé estampada na bandeira

Vou botar molho inglês na feijoada
Misturar chá com cachaça
Ser ou não ser eis a questão
Tem choro e riso nesse palco de ilusão

Vão dominar o mar e grandes tesouros
Guiados pelos olhos da ciência
Lindos contos vão brotar...
A luz do cinema é a arte a brilhar
Olha, bicho, paz e amor suingou
Batuquei meu samba com rock n´rool
Na minha terra tem o reino da folia
Futebol que contagia...É gol!
É a vitória um momento divinal
Acendo a chama pela paz universal

A minha ilha é ouro é prata
Tem o bronze da mulata
Canta, meu Rio, em verso e prosa
Com a cidade ainda mais maravilhosa

Samba Enredo Renascer de Jacarepaguá 2012



Compositores: Adriano Cesário, Claudio Russo, Fábio Costa e Isaac

Esse dom que faz o artista imortal
É luz do céu para pintar
A Renascer no carnaval
O faz buscar em cada cor o infinito
Acreditar romero brito
Que deus mora na inspiração
Em páginas arte que viu
O inverso se abriu, presente de irmão
Contraste que se refletiu
Universo do artista, outra direção

Nas cores de sua aquarela
Valores brincando na tela
Aquele abraço desenhar
Gira o compasso eu quero outra vez sambar

Sensibilidade, pop arte ao mundo espalhou
Sorrir é brilhar,
Dar ao papel a emoção que seduz
Eu sei que arte vai reinar
Tal qual as telas na cidade luz
Do alto do morro o redentor abraça o gênio
Que hoje repinta esta cidade
Moleque recife é saudade
Há tantos meninos assim
Querendo um sonho,
Na liberdade das cores sem fim

Pintor da alegria, calor da emoção
Pintou renascer no meu coração
No tom da folia vou me apresentar
Na galeria Jacarepaguá

Sinopse Beija Flor 2012

Enredo: "São Luís - o poema encantado do Maranhão"


Areias infindas das terras das palmeiras do meu país, depois do oceano, do areal extenso, o horizonte imenso, onde a terra esboça luz. Upaon-Açu, solo sagrado, terra de encantarias, onde vive em plena mata, a tribo dos homens nus. São guerreiros dos cumes dos montes, dos vastos horizontes, onde canta o sabiá. São combatentes bravos, que não se fizeram escravos do estalar do açoite dos que vieram te dominar. Sem saber o que esperar, três Coroas te cobiçaram as riquezas, os relatos do Novo Mundo inflamaram as paixões, por cidades de ouro puro a serem descobertas, de fantásticos prazeres, ilusão hiperbólica dos seres, transformados em quimera bestial.
A França te fundou, Holanda te invadiu, mas Portugal conseguiu, por fim, te colonizar. Mas para tanto, o que se deu foi um quadro medonho e triste, que, ao surgir, no mar se achou. Abrindo as velas ao soprar das virações marinhas, surge espectro sombrio. Em meio às brumas, desenha grande navio, que traz um canto funeral. Choro, amargura e horror fazem do cúmulo da maldade, a mordaça da liberdade para triste multidão; o navio da escravidão, ferida aberta nos mares, vem macular os ares de São Luís do Maranhão.
Fatalidade atroz, envolve reis e rainhas, soberanos de selvas longínquas da majestade dos leões. Ontem belos, livres e bravos, agora míseros escravos; sem luz, sem lar, sem amplidões.
E a terra se desdobra, cresce, evolui, se renova, a ferro, fogo e escravidão. Mas nos planos divinos, nos reinos cristalinos, nos píncaros da luz eterna, surge nova terra, cultivada à força da oração.
Upaon-Açu, ressurge agora mística no poder dos voduns e ao som dos tambores de Daomé, na manifestação dos antigos e na força do candomblé. Desse misticismo santo, surge a alegria e o encanto das festas que te enfeitam, por vezes, como o Boi morto e ressuscitado da negra mãe Catirina, celebração divina em meio a enfeitados casarões de azulejos portugueses; teu folclore tem brilho farto, que à tua riqueza conduz.
Terra dos ludovicenses, Ilha do Amor e dos mitos da Fonte do Ribeirão, da terrível serpente encantada, da lenda da praia do olho dágua, de Iná princesa, e do milagre de Guaxenduba. Fala-se de uma sinhá incompreendida, que virou assombração, e no soar da meia-noite, surge o espectro sinistro, ouvem-se o ranger de correntes, estalar de açoites, seres sombrios como a noite, escravos arrastados em imenso turbilhão.
E a Sinhá Ana Jansen sofre agora, aprisionada em carruagem encantada por antigos escravos seus, furiosos, desesperados, cortejo de celerados, esquecidos filhos de Deus. E a cena só termina, quando o galo, na campina, anuncia o dia raiar.
São Luís, capital do Maranhão, terra de Alcione, de Joãozinho Trinta, de Zeca Baleiro, de Rita Ribeiro, do Reggae Brasileiro, de Gonçalves Dias, de Ferreira Gullar e Josué Montelo.
Vestindo a fantasia, vem celebrar nossa folia o fofão, o vira-lata, cruz-diabo, o corso do meretrício e as cabrochas a brincar com os mascarados dos salões do Moisés.
Em meio a tanta festa reluz o Eldorado da bauxita, minério batizado pela Coroa que te fundou e que desconheceu essa tua riqueza, que hoje é chama acesa para que possas progredir; na luz dos céus incomparáveis do futuro que te aguarda, na imensidão, para te consagrar, enfim, São Luís, pérola sagrada da Coroa encantada do glorioso Maranhão.

Laíla
Diretor Geral de Carnaval


Laíla, Fran Sérgio, Ubiratan Silva, Victor Santos e André Cezari
Comissão de Carnaval


Bianca Behrends
Pesquisa e Documentação Artística

Sinopse Unidos da Tijuca 2012

Enredo: "O dia em que toda realeza desembarcou na avenida para coroar - O rei Luiz do Sertão"


"Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão;
que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes,
os valentes, os covardes, o amor."
Luiz Gonzaga

Toca a sanfona porque a festa vai começar!
Abre e fecha esse fole que a comitiva vai chegar
A Avenida é a estrada que leva sertão adentro
E ninguém que aqui está esquecerá esse momento.

De lembrar que, em noite de estrela, nasceu um rei no sertão
Que virou majestade de tanto ensinar o baião
Andando e cantando a história de seu povo
Cem anos depois, ele vai ser coroado de novo.

Convidamos reis e rainhas pra mostrar que desde menino
Luiz Gonzaga, o Lua, já tinha de astro o destino
Mostrava o sorriso e a alegria, cantava e dava lição
Mas lá no fundo guardava saudade no coração.

Senhoras e senhores, o roteiro dessa viagem
Leva a terras distantes, onde um povo de coragem
Desafia a seca e a poeira, do barro ganha a vida
Esculpe a terra, tece a renda, de sol a sol nessa lida

No mercado, montam a banca e é bonito de se ver
E de tudo que há no mundo, nele tem para vender
Cores, cheiros, sabores da cultura nordestina
Lá se compra toda a sorte dessa vida Severina.

Segue o comboio real, vai cruzando o caminho
No lombo do burro, chega às terras de Vitalino
O mestre da escultura, que todo mundo copia
Bonecos que contam a vida, as coisas do dia a dia.

Mas pra conhecer o sertão, é preciso ter coragem
Atravessar a caatinga, seguir em frente a viagem
Pedir benção, rezar com fé, ser beato, ser romeiro
E reunir com toda a tropa, lá na Missa do Vaqueiro.

Senhores, rainhas e reis, o Rei do Baião anuncia
Que, depois de tanta reza, vai crescer a valentia
É pegar a beira do rio, é ser Lampião e Corisco
Pra conhecer a beleza do Vale do São Francisco.

Andar pela margem pra ver a vida que brota dos rios
O Velho Chico crescendo, com água que vem dos baixios
A cana, os frutos, o gado, o canto do passarinho
Cantar a saudade do rei, desse tempo de menino,

Toca a boiada, vaqueiro! Segue em guarda o cangaço
Que cada afluente que corre do Velho Chico é um braço
Desce pro sul até ver carrancas que trazem a sorte
A cara feia que espanta não deixa ter medo da morte.

"Simbora" que vem a noite, é hora de ver balão
Que as festas já começaram, tem "arraiá", tem quentão
São José foi no plantio, na colheita é São João
A quadrilha já tá pronta, vai ter forró e baião.

E a sanfona anima o povo, todos vão se apresentar
Pra comitiva real, ao som do fole brincar
Bumba meu boi, maracatu, frevo, pagode e reisado
E tudo que precisar pra gente ficar animado.

Foi cantando pelo sertão que Gonzaga virou rei
De tanto cantarem junto, sua canção hoje é lei
Da poesia na praça, da valentia e coragem
Sua lição ganha as rádios, difunde sua mensagem.

Nas estações onde passa, vai contando sua vida
Espalha alegria e raça, hoje ganha a Avenida
E a Tijuca agora brinca e pra todo o mundo diz
Que a estrela de Gonzaga no céu descansa feliz.

Paulo Barros (carnavalesco)
Isabel Azevedo
Simone Martins
Ana Paula Trindade

Sinopse Mangueira 2012

Enredo: "Vou festejar, sou Cacique, sou Mangueira"


Tudo começou na África, num tempo em que eu era ainda moço e minha tribo estava a mercê do perigo e os sacerdotes cuidavam de expulsar com reza forte as vibrações de má sorte que rondavam nossa morada. Lembro-me que os mensageiros da morte vieram de longe, do outro lado das águas, talvez, não tinham sequer no corpo o bronze da nossa pele, não tinham os lábios carnudos, eram estranhos em tudo! E até mesmo esses detalhes que constroem a nossa face, neles eram diferentes. Juro que inocente, pensei até em disfarce. Conduzido pela dor, fui levado prisioneiro ao traiçoeiro Negreiro, o reino da apatia. Lá, sujeito as doenças e a fome que habitavam aquele porão sombrio, caí no mais denso e frio estado de melancolia. E era como um açoite, a escuridão da noite, toda vez que ela chegava. E eu sofria pesadelos, acordava assustado. Ainda na inocência, confundia a luz da vidência com as trevas dos maus presságios. Ao desembarcar, os pés feridos, descalços, vi quando o sal do oceano espalhou-se sobre o chão molhado desenhando uma linda concha do mar e, ouvi a voz de Iemanjá me falar: este "Mundo" é o teu "Novo" lar! Prepara-te, o teu futuro te reserva coisas lindas, surpresas te virão ainda. Já em terra firme, nos primeiros anos depois que saí da minha terra, suportei a mão pesada da escravidão e as feridas da solidão. Certa vez, escondido pelo breu da noite, resolvi caminhar na mata. Eu já andara bastante. Com a respiração ofegante, parei pra descansar um instante.

E o sono foi me apagando, a cabeça meio tonta, eu já nem me dava conta do perigo de dormir longe da senzala, do povo da minha tribo, sem a proteção de um abrigo. E ali sonhei meu destino. No sonho um guerreiro caçador, o cacique dos índios, passeava naquelas terras e me viu sentado sob uma tamarineira que ele havia plantado no seu tempo de menino. Sentou-se ali do meu lado, desenhou com seu arco, no chão, uma pequena flecha e, com amabilidade, perguntou a minha idade, quis saber em que cidade eu havia nascido. E eu, me sentindo aà vontade lhe falei dos deuses iorubás, da minha terra natal, do cordão umbilical, do rio da minha aldeia. E ele, com calma, me falou do poder das folhas e das raízes que transformam em cicatrizes ferimentos e mordeduras de aranhas e de serpentes; dos banhos quentes de algumas ervas e sementes, que curam até os doentes de alma. Ao voltar pra senzala era como se meu coração tivesse fala. O Rio de Janeiro era o meu novo terreiro e nas batucadas, nas festas, na alegria das ruas, nas brincadeiras do povão, encontrei meu destino e enganei a solidão. Quando o Entrudo chegava uma maravilha de ruídos invadia as ruas, um barulho encantador que contrastava com a sujeira reinante. Divertidas batalhas com limão de cera, água e farinha branca atiradas entre os participantes aconteciam a todo instante. Zé-pereira, bumbos, rostos e bumbuns de negros azucrinando nas praças e no passeio público, zombando, se divertindo, enquanto a viola chorava e espinoteava espantando a tristeza. E tudo era instrumento, flauta, violões, pandeiros, latas, gaitas, frigideiras de ferro, caixotes e trombetas. Instrumentos sem nome, inventados subitamente no delírio da improvisação, do ímpeto musical, na força do sentimento. Já que batucar na cozinha Sinhá não deixava, o nosso canto ecoava nas senzalas e invadia as ruas. Aliás, na rua do Ouvidor, na rua Direita ou no Largo de São Francisco tudo era canto e os sons sacudiam e movimentavam as vestimentas de cores vivas, ardentes, dançando e tateando os corpos que exalavam o doce perfume da alegria.

A elite fazia biquinho e implicava, chamava nossa festa de selvagem e brutal e que o verdadeiro carnaval estava nos salões da nobreza de Paris e Veneza. Discriminada e com as autoridades policias no encalço, a turma dos descalços e descamisados tratou de arrumar um jeitinho para continuar festejando. Com um olho no padre e outro na missa lutamos dançando, dançamos rezando e rezamos cantando. As festas, celebrações e procissões dos brancos, agora, serviam como máscaras e disfarces. Por trás delas festejávamos nossas entidades sagradas e batucávamos até o sol raiar. Organizados em Cordões carnavalescos, cantadores e dançarinos, palhaços, a morte, os diabos, os reis, as rainhas, as baianas, os morcegos e os índios também entraram na dança e colocaram a polícia pra dançar. No noturno da Praça Onze, ali mesmo na nossa "Pequena África", os desfiles do Pastoril e dos Maracatus em louvor à Ciata D’Oxum, a tia-mãe-baiana dos festejos, se tornaram a sensação e os luxuosos Ranchos cantadores, dominados pelos negros e castanhos, rompiam a massa colorida em grande animação. Para matar a sede dos cantadores e dos berradores, os refrescos de coco, os gelados de abacaxi e limão. Para a fome, bolos de fubá, pé de moleque, alcaçar, tapioca, manauê e feijoada no caldeirão. Mascarada, a elite branca se esbaldava no luxo dos salões, nos desfiles dos corsos e das grandes Sociedades. O povo preto e pobre, barrado no baile burguês, continuou dono das ruas e vielas como legítimos senhores da folia. Música, fanfarra, préstito, maxixe e, finalmente, de semba se fez samba. Abençoadas por Nossa Senhora do Rosário, na Festa da Penha, as negras suspendiam as saias rodadas e dançavam, nos requebros das ancas, no arranco das umbigadas. Enquanto os senhores rezavam na parte alta das escadarias, na parte de baixo, a sensualidade era religiosa, o ritmo dos batuques era sacerdotal e feiticeiro. Ali desaguavam os cantos e as melodias de todo o povo brasileiro e os compositores da primeiríssima geração de sambistas, testavam a popularidade do seu cancioneiro.

O tempo passou. A cidade se transformou em uma selva de pedra onde a "Onça" reinava absoluta e era a principal atração. "Vejam todos presentes, olha a empolgação, este é o Bafo da Onça que eu trago guardado no meu coração". Até que um dia, um "Cacique" bamba entrou na folia e dividiu a tribo do samba sem vacilação. "Foi lá no fundo do seu quintal que o samba pegou moral e agitou a massa, e o povo voltou a cantar e sorrir, caciqueando aqui e ali, abrindo o coração pro amor". De repente as ruas esvaziaram-se! Será que a "Onça" vacilou, foi beber água de cheiro e se afogou?! Até mesmo o bravo "Cacique" parecia cansado das batalhas de confetes e desanimou! Para onde teria ido a alegria? Onde estaria a espontaneidade que transformava cem pessoas saídas de um bairro em quinhentas, em mil, sem ninguém se conhecer? Mas o samba é eterno, não tenho medo de responder! Ele até pode agonizar, mas jamais irá morrer! A "Onça" marcou bobeira e não mais saiu da toca, mas o "Cacique", malandro, mudou de oca, foi fazer morada à sombra de uma tamarineira e ali no subúrbio da Leopoldina, abençoado por Oxossi, o pagode ecoou vindo do "Fundo do Quintal" e embalado por banjos, repiques, tantãs e pandeiros conquistou o Brasil inteiro. "Batam palmas, gritem, soltem a voz. Pra manter o pique só depende de nós"! O carnaval, a partir daí, não terminava mais na quarta-feira de cinzas. Quase sem querer, ele se fragmentou em diversas festas nos lares das famílias simples, em animadas rodas de samba, em batuques sobre mesas de bares, confirmando que a tribo do samba ainda queria apito, sem necessariamente o pau ter que comer! Isso tudo já faz muito tempo. Hoje eu chego com o vento e volto aos pés da velha tamarineira, sento-me novamente ao lado do guerreiro e de Oxossi em saudação ao meio século de história do cacique de Ramos. Nós somos as raízes e o Cacique é o tronco desta árvore que deu frutos como Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Dicró, Mauro Diniz, Zeca Pagodinho, Luis Carlos da Vila e Neguinho da Beija-Flor, entre outros nomes, além da dindinha Beth Carvalho um bendito fruto feminino entre tantos homens.

Salve a tribo dos bambas; esse "Doce Refúgio" de pagodeiros e malandros no bom sentido da palavra. A tribo que bate tambor e faz ecoar o surdo de primeira pra saudar a sagrada tamarineira e confirmar que o bom samba também mora em Mangueira. Afina, "onde eu cheguei, nem um mortal chegou, modesta parte nessa arte, Deus me consagrou e o meu canto ecoou por todo universo, até em Marte o meu samba fez sucesso!" Por tudo isso vou festejar, pois sou Cacique, sou Mangueira! Boa sorte a todos compositores.

Sinopse Vila Isabel 2012

Enredo: "Você semba lá... que eu sambo cá! O canto livre de Angola"


O Brasil e Angola são ligados por laços afetivos, linguísticos e de sangue. São quase irmãos pela história que os une.

 Desde a Antiguidade, já existiam bestiários que repertoriavam as estranhezas da fauna e das características geográficas. Segundo o jesuíta Sandoval (1625), " Os calores e os desertos da África misturavam todas as espécies e raças de animais, em redor de poços, criando um ecossistema particular, capaz de engendrar hibridações monstruosas. Tal circunstancia fazia da África, o continente de todas bestialidades, o território de eleição do diabo."

 As bestialidades de que falava tal escritor eram hipopótamos e rinocerontes, chacais e hienas, zebras e girafas, avestruzes e palancas negras, entre outros.

 A estranheza também era causada pela cor da pele de seus habitantes.

 As regiões abaixo do deserto do Saara, chamadas de Ndongo e Matamba, eram habitadas por dois povos distintos: os ambundos e os jagas. Os primeiros eram excelentes ferreiros, cuja habilidade era muito apreciada. Os jagas, por sua vez, se destacavam como guerreiros invencíveis, pois se exercitavam diariamente em local apropriado a que chamavam de quilombo.

 Na época da expansão marítima portuguesa, esses dois povos possuíam um soberano a que chamavam de Ngola.

 No século XVII, a região de Angola era governada por uma rainha chamada Njinga, que era ambundo pela linhagem materna e jaga, pela paterna. Expressão do encontro de dois grupos étnicos, que apesar de semelhantes, tinham organizações distintas, Njinga os governou com sabedoria. A persistência do incômodo causado pelo seu sexo, entretanto, levou-a a assumir um comportamento masculino, liderando batalhas pessoalmente e vestindo de mulher seus muito concubinos, que faziam parte de seu harém.

 Apesar da fama de Njinga ter sido construída na luta da resistência contra o domínio de Portugal, entre os portugueses o reconhecimento de seu talento político e capacidade de liderança surgiu a partir de seu desempenho como chefe de uma embaixada que o então Ngola do Ndongo, enviou ao governador português, em 1622. Recebida com uma pompa que deve tê-la impressionado, Njinga também teria causado impacto entre os portugueses ao agir e falar no mesmo idioma que o deles, como chefe política lúcida e articulada.

 O interesse português era um só - mão de obra para outra colônia de além-mar, o Brasil. Embora fossem ricos em minerais, em diamantes, nada disso os interessou.  Pois na época, o reino de Angola era o grande manancial abastecedor dos engenhos do Brasil. Sem o açúcar, não havia o Brasil. Sem negros não haveria o açúcar. Sem Angola, não havia negros. E, sem Angola não havia o Brasil.

 Apesar da resistência de Njinga, o comércio era feito de modo avassalador. Os negros cativos ficavam em barracões, que podiam acolher cerca de 5.000 almas, que eram embarcadas rumo ao novo continente, em viagem longa, cuja duração podia ultrapassar dois meses, dependendo das condições climáticas. O porto e partida era Luanda, o maior centro de comércio escravagista africano. A cidade alcançara essa posição a partir do momento em que os escravos passaram a ser embarcados diretamente para as colônias americanas. Aproximadamente doze mil viagens foram feitas dos portos africanos para o Brasil, para vender, ao longo de três séculos, quatro milhões de escravos, aqui chegados vivos.

 A despedida era simples. A cerimônia de batizado era na hora do embarque: - Seu nome é Pedro; o seu é João; o seu, Francisco, e assim por diante. Cada viajante recebia um pedaço de papel com um nome escrito. Então, um intérprete ironicamente dizia: "Sois filho de Deus, a caminho de terras portuguesas, esquecei tudo que se relaciona com o lugar de onde viestes, agora podeis ir e sede felizes".

 A morte social despe o escravo de seus ancestrais, de sua família, e de sua descendência. Retira-o de sua comunidade e de sua cultura. Ele é reduzido a um exílio perpétuo.

 E lá se vão, num navio abarrotado, sem alimentos adequados, sem sequer espaço para se acomodarem. Levam na memória, os cantos, as danças, os ritmos, as tradições. Levam Njinga e seu espírito combativo, a levam na memória, apesar das ordens para esquecerem tudo....

 Os navios negreiros aportavam no Cais do Valongo, longe do rebuliço da cidade. Alí os escravos viviam em depósitos, a espera para serem comprados. Pois foi em 1779, por ordem do Vice-Rei, marquês de Lavradio, que nesta região se localizaram o cais, o mercado e as precárias instalações para abrigar os recém chegados.

 Por ironia do destino, foi neste mesmo cais, que anos mais tarde, receberia em 3 de setembro de 1843, a princesa Tereza Cristina, futura Imperatriz do Brasil, e também mãe da princesa Isabel, aquela que terminaria de vez com o regime de escravidão. O cais foi remodelado e uma cenografia decorativa escondia aos olhos reais as imagens da pobreza extrema e a humilhação a que eram submetidos os recém chegados.

 Presente em vários lugares em que houve a escravidão, a coroação de um rei e uma rainha negra era uma forma de diminuir o sentimento de inferioridade social, assim como as irmandades permitiam a reunião para reverenciar algum santo, mas sobretudo como relacionamento social entre os escravos.
 
"Nesta santa irmandade se farão todos os anos  hum Rey e huma rainha os quais serão de Angolla, e serão de bom procedimento, e terá o rey tão bem seu voto em meza todas as vezes que se fizer visto da sua esmolla avantajada." O titulo a que se dava era Rei do Congo e a Rainha Njinga. A fama de Njinga atravessou os séculos e os mares, sendo evocada em festas populares no Brasil. Mas antes de se alojar no imaginário popular, as lições de Njinga foram muito provavelmente postas em prática na luta dos quilombolas de Palmares.

 Com o intuito de se divertirem, as irmandades aproveitavam-se das comemorações dos dias dedicados a este ou aquele santo, para organizarem seus festejos. E era quase que o ano inteiro, pois S. Pedro, S. João, Santo Antonio, o Espírito Santo e outros tantos mais, se espalhavam no calendário. Tudo era oportunidade para comemorações festivas.

 Na Festa do Divino, segundo Manuel Antonio de Almeida, embora os músicos fossem muito apreciados pelo publico, ele considerava que eram desafinados e desacertados: "Meia dúzia de aprendizes de barbeiro, negros, armados este, com um pistom desafinado, aquele com trompa diabolicamente rouca formavam uma orquestra desconcertada, porém estrondosa, que fazia as delicias dos que não cabiam ou não queriam estar dentro da igreja. Mas era musica buliçosa, um convite aos jovens à dança". Os instrumentos que usavam eram basicamente trombetas, trompas, cornetas, clarinetas e flautas e os de corda - as rabecas, violões, tambores, bumbos e triângulos também eram encontrados.

 A festa reunia uma enorme economia e produção. Os fogos, no Campo de Santana, era a maior atração. Depois as barracas, com comidas e bebidas, show de ginástica e muita cantoria. A que fazia mais sucesso, entretanto, era a barraca conhecida como Três Cidras do Amor, frequentada pela família e pelo escravo, pela plebe e a burguesia. Era um salão um tanto acanhado. Num dos cantos  havia um teatrinho de bonecos com cenas jocosas e honestas. O conjunto de atrações das Três Cidras do Amor era longo e variado. Peças como Judas em Sábado de Aleluia eram encenadas. Depois do inicio do baile com valsas, as apresentações cada vez mais se afastavam de uma pretensa seriedade, e a dança tradicional e eletrizante do povo brasileiro assumiam o espaço, com os dançarinos bamboleando, cantando, requebrando-se, ondulando as nádegas a externuar-se, e dando umbigadas. Os homens e as mulheres que realizavam os indefinidos e inimitáveis requebros, umbigadas e movimentos lascivos não nasceram nos ricos salões de baile, estavam nas ruas, reuniam-se nas festas de largo, onde seus ritmos prediletos eram apresentados como atração e divertimento.   

 A junção dos violões, cavaquinhos e flautas já era praticada pelos músicos barbeiros,ou como insistem alguns especialistas, havia sido realizada nos casebres populares do Rio, mais precisamente na Cidade Nova.

 Lá, destaca-se Tia Ciata, dando continuidade aos festejos que já aconteciam no Campo de Santana, abandonado pelos festeiros após a Reforma do local. Tia Ciata nasceu em Salvador em 1854, e aos 22 anos, trouxe da Bahia o samba para o Rio de Janeiro. Foi a mais famosa das tias baianas, trazendo também o candomblé, do qual era uma ialorixá. Na Casa da Tia Ciata ecoavam livremente os batuques do samba e do candomblé.

 Segundo Mary Karash, das danças escravas, como o lundu, capoeira e jardineira, a que ficou conhecida no século XIX por "batuque" é a mais próxima do samba carioca moderno.

 O termo SAMBA, possuía uma clara origem angolana. O verbo kusamba, que significava saltear e  pular, provavelmente expressasse uma grande sensação de felicidade.

 Hoje,"O Samba é considerado como um produto da história social brasileira". De acordo com o presidente do Iphan, "O gênero musical e coreográfico pode ser considerado tanto como sendo próprio de comunidades culturais identificáveis (executantes e brincantes inseridos em agrupamentos sociais de pequena escala) e também no contexto da vida urbana, e da indústria cultural mediatizada. O vigor do Samba enquanto gênero cultural encontra-se em sua plasticidade e capacidade de gerar inúmeras variantes, como o samba-de-roda, o samba carioca, o samba rural paulista, a bossa nova, o samba-reggae e outros mais, em suas diversas interpretações."

Aqui na Vila Isabel, que é de Noel, e de Martinho, devemos a ele esta história. Ele que, nos anos 70, fez sua primeira viagem ao continente negro e durante muitos anos foi a ponte entre o Brasil e Angola, sendo considerado um Embaixador Cultural. Levou a música brasileira como um presente ao povo amigo e irmão, através das vozes tão brasileiras de Caymmi, João Nogueira, Clara Nunes e ainda Chico Buarque, Miúcha, Djavan, D. Ivone Lara, entre outros. Três anos mais tarde, Martinho elaborou um projeto trazendo a música angolana para os brasileiros, a que chamou de O Canto livre de Angola.

Nosso samba....  seu semba ...por isso  enquanto eu sambo cá.... você  semba lá... 

Rosa Magalhães (Carnavalesca) & Alex Varela (historiador)

Sinopse Salgueiro 2012

Enredo: "Cordel Branco e Encarnado"


Minha "fia", meu senhor
Deixa eu me apresentar
Sou poeta e meu valor
Vai na avenida passar
Basta imaginação
Um "cadim" de inspiração
Que eu começo a versar


Vou cantar a minha arte
Que nasceu bem lá distante
Num lugar que hoje é parte
Da nossa origem errante
Vim das bandas da Europa
Nas feiras, a boa trova
Era demais importante!

Foi assim que o mar cruzei
Na barca da encantaria
Chegou por aqui um Rei
Com bravura e poesia
Carlos Magno o os doze pares
Desfilando pelos mares
Da mais real fidalguia

E veio toda a nobreza
Que um dia eu imaginei
Rainha, duque, princesa
E até quem eu não chamei:
Um medonho de um dragão
Irreal assombração
Dessa corte que eu sonhei

Também tem causo famoso
Que nasceu lá no Oriente
De um tal misterioso
Pavão alado imponente
Que cruza o céu de relance
Dois jovens, e um só romance
Vencendo o Conde inclemente

Todas essas histórias
Renasceram no sertão
Onde vive na memória
O eterno Lampião
E não houve um brasileiro
Que de Antônio Conselheiro
Não tivesse informação

Pra viajar no meu verso
É preciso ter "corage"
Vai que um bicho perverso
Surge que nem "visage"?
Nas matas sertão afora
Lobisomem, caipora
Que medo dessas "image"!!

Pra findar esse rebuliço
Rezar é a solução!
Valei-me meu "padim" Ciço!
Vá de retro, tentação!
Nossa Senhora eu não quero
(Tô sendo muito sincero)
Cair nas garras do cão!

E não é que meu santo é forte?
Cheguei ao céu divinal
É tamanha a minha sorte
A minha vitória afinal
É cantar com alegria
Fazer verso todo dia
Na terra do carnaval

Ao ver chegar a tal hora
Da minha "alegre" partida
Saudade, palavra agora
Tem posição garantida
Mas não se avexe meu irmão
Que hoje a coroação
Acontece é na avenida

Pois eles hão de herdar
Todo esse sertão sonhado
Monarcas que vão reinar
Na corte do Sol dourado
Poetas de tradição
Recebam de coração
Um cordel Branco e Encarnado

E agora eu vou sem medo
Fazer festa "de repente"
Vai nascer um samba-enredo
Pra animar toda a gente
Afinal, não sou melhor
Muito menos sou pior
Só um poeta diferente!

Renato Lage, Márcia Lage, Departamento Cultural