GRES São Clemente
O seu, o meu, o nosso Rio, abençoado por Deus e bonito por natureza
Sinopse:
Conselho Deliberativo da Criação Divina.
Lá longe e tão perto, eternizado em nossos corações, está Deus. Dada sua condição especial, onipresente e divino, Ele convoca todos os santos, anjos e arcanjos e institui o Conselho Deliberativo da Criação Divina. Transforma-os em incansáveis missionários para construir o mundo dos homens em sete dias. E afirma: - Dos sete, utilizarei dois para criar uma cidade admirável, esculpida pela própria natureza.
Em seguida, chama por São Clemente e São Sebastião e ordena-os:
- Vocês serão responsáveis pela obra desta "cidade única". Descerão da criação divina ao plano material, levando o sopro à vida. Distribuirão mistérios por uma terra abundante de frutos, pássaros e peixes. Belas, igualmente únicas e belas, serão suas paisagens e suas águas cristalinas "azuis como a cor do mar". E ao término do cumprimento de minha ordem divina chamem-na de E Deus fez a Maravilha. Contudo, antes de partirem, o criador de todas as coisas designou os anjos Ariel, Gabriel e Raphael para a tarefa de fiscalizar as obras e a vida na cidade única por Ele planejada.
Rio: um porto desejado!
A Maravilha de Deus é contemplada.
Os fenícios podem ter sido os primeiros que aqui chegaram. Eles vislumbram um "Rio Alado". Algumas inscrições gravadas no alto da Pedra da Gávea permitem fantasiar sobre esta versão indubitavelmente mágica em sintonia com a natureza.
O Rio torna-se alvo irresistível para os navegadores portugueses e franceses, que ávidos da majestosa natureza, travam batalhas por seu valor inestimável.
Deus percebendo a cobiça e o crescente desejo pelo domínio de sua menina dos olhos promove São Sebastião a santo padroeiro da cidade. Credita-se a São Sebastião, o bem-aventurado, parte do nosso futuro sucesso como cidade. Dada a batalha final, é ele quem surge na visão do consciente imaginário português motivando-o a vencer e expulsar os invasores, fundando-se a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Império Tropical
Vendo através dos olhos dos homens, o nosso divino arquiteto dá condições à vida...
A Família Real desembarca no Rio de Janeiro. É a época da política do "Ponha-se na Rua", nome dado, com senso de humor, pelos cariocas, que se inspiravam nas iniciais "PR", de Príncipe Regente, que eram gravadas na porta das casas requisitadas para os nobres portugueses.
A Divindade transforma-se em uma realidade histórica. É a fonte cristalina das águas do Rio carioca. Suas águas correm, suprem as necessidades de abastecimento e chegam aos homens. Tornam-se as águas do Rio, dos escravos agueiros, dos caminhos dos aquedutos, das mães-d´água: das bicas públicas, dos chafarizes, das casas dos nobres.
Águas que molham o canto das lavadeiras nos riachos e atiçam o imaginário carioca: mulheres que delas bebiam ficavam formosas e os homens recuperavam o vigor físico. Seguindo o caminho das águas do Rio, a sabedoria divina é observada na natureza. Emerge da terra macia e fértil uma deslumbrante floresta urbana. Depois de emitidos os relatórios pelos anjos consultores de Deus, visando garantir a comunhão entre a natureza e a cultura dos seres humanos, conclui-se a Floresta que se denominou Floresta da Tijuca. Não obedecendo à ordem existente, o homem, nela, cultivou o plantio do café. A cafeicultura se espalhou rapidamente por grande parte do Maciço da Tijuca, ocasionando forte desmatamento, o que levou os barões e os senhores do café, os nobres e a crescente população da capital do Império a sentirem a ira de Deus.
Como resposta, atribui aos homens consequências desastrosas como as severas secas que atingiram o Rio de Janeiro, criando um problema periódico de falta d'água para a cidade carioca. Como se não bastasse, o governo imperial foi responsabilizado por um programa emergencial de preservação dos mananciais e do replantio das árvores da Floresta da Tijuca, seguido das desapropriações das fazendas cafeeiras da região.
Em contrapartida, o governo propôs o cultivo de um jardim, com o intuito de estimular a aclimatação e a cultura de especiarias exóticas vindas das Índias Orientais. A fluida terra desse jardim, nomeado, inicialmente, de Real Horto, Real Jardim Botânico e, finalmente, de Jardim Botânico do Rio de Janeiro, semeou-se de novas opções de plantio.
Nele, a mão de obra chinesa foi utilizada para testar a receptividade do solo carioca ao cultivo do chá. Contudo, diante da experiência marcada pelo insucesso, os chineses foram aproveitados para abrir uma via carroçável. Nesta obra, teriam feito seu acampamento onde hoje está localizada a Vista Chinesa, dando origem desta maneira a um dos mais belos mirantes da cidade do Rio.
Modernismo Carioca
São Clemente e São Sebastião, após se reunirem com os anjos fiscais das obras divinas, chegam à conclusão que devem, mesmo sabendo da conformação geográfica da cidade (constituída de elevações, lagoas e pântanos), encaminhar, para a aprovação do Conselho Deliberativo da Criação Divina, o programa urbanístico do engenheiro e prefeito Pereira Passos, que visa transformar a antiga cidade imperial em uma metrópole cosmopolita.
Sob esta ação, inicia-se no centro carioca uma grande intervenção. Em pouco tempo as picaretas do progresso abrem à cidade as vias da modernidade. Construção de grandes e largas avenidas, de praças e jardins; revitalização do cais do porto e arborização da Avenida Beira-Mar.
Entre planos estratégicos, riscos e traços, o Rio civiliza-se e é "rebatizado" de Cidade Maravilhosa. Conta-se, inclusive, que nessa época, Deus para proteger os seres aterrados, nomeou São Jorge como General da Guanabara. E salve Jorge!
Os princípios do projetar moderno, contudo, somente são aplicados nas décadas seguintes pelo estudo urbanístico do arquiteto Alfred Agache e dos projetos do arquiteto-paisagista Roberto Burle Marx que, entre outros, assina o projeto paisagístico do Parque do Flamengo.
Nesse contexto de grandes transformações, os belos cenários urbanos projetados e ordenados pelos novos meios técnicos do homem conjugam harmoniosamente as paisagens do Rio, possibilitando uma gestão cultural à altura do que a cidade única idealizada por Deus merece.
Música: a paisagem do Rio
A música é um dom divino. O som está por toda parte. É pura ilusão achar que a natureza é silenciosa.
A paisagem do Rio de janeiro situa-se no horizonte musical do carioca Villa-Lobos, que incorporou o folclore brasileiro às seduções urbanas do Rio de Janeiro; e no repertório original da pianista Chiquinha Gonzaga, autora da primeira marcha carnavalesca "Ô Abre-Alas".
Sobre as formas populares situa-se nos "chorões" das composições de Pixinguinha e nos aspectos mais descontraídos como o samba e todas as músicas de inspiração rítmica, que descem dos morros e interagem com a cidade. A Bossa Nova, o mais carioca dos estilos musicais, é o Rio que inspira "no doce balanço a caminho do mar". É a paisagem musical que canta a paixão do carioca pelo Rio, a benção divina que, de braços abertos, ilumina a vida, a diversidade de cores e de sabores, de flertes e de olhares, e de muitos amores.
A Bossa Nova gira em 78 rotações e redescobre o Rio de Janeiro. Universaliza, revoluciona, rompe fronteiras e leva a música do Brasil aos quatro cantos do mundo.
Rio Cidade!
Muito antes, o divino criador já anunciava: é preciso ter fé e redenção.
Cuidados com a cidade para sua preservação... Mais de 400 anos se passaram e a cidade única planejada por Deus é dominada pela Lei do mais forte, "que dita as normas e causa algumas imperfeições à cidade".
Não se vê mais o todo: a vida, as águas, a terra. A cidade cresce desordenadamente. O Homem autoriza, polui, e a "pobreza" chancela a construção em terras invadidas e em áreas inadequadas. As consequências são drásticas! Salve-se quem puder. Engarrafamentos, enchentes, deslizamentos, lixo, injustiças sociais e epidemias.
Esses efeitos chamam a atenção do nosso divino arquiteto, que intervém lançando um desafio para a cidade: no lugar do "progresso" e do crescimento ilimitado, hostil para a natureza do Rio, devem-se convocar todos os engenheiros, arquitetos e paisagistas e criar um grande planejamento para a reconstrução urbana da cidade. Isto porque, o Rio haverá de ser o responsável pela realização de dois grandes eventos mundiais.
Eis o meu desafio para garantir as condições de continuidade à vida nesta cidade.
Ser Carioca é...
Conselho Deliberativo da Criação Divina.
Lá longe e tão perto, eternizado em nossos corações, está Deus. Dada sua condição especial, onipresente e divino, Ele convoca todos os santos, anjos e arcanjos e institui o Conselho Deliberativo da Criação Divina. Transforma-os em incansáveis missionários para construir o mundo dos homens em sete dias. E afirma: - Dos sete, utilizarei dois para criar uma cidade admirável, esculpida pela própria natureza.
Em seguida, chama por São Clemente e São Sebastião e ordena-os:
- Vocês serão responsáveis pela obra desta "cidade única". Descerão da criação divina ao plano material, levando o sopro à vida. Distribuirão mistérios por uma terra abundante de frutos, pássaros e peixes. Belas, igualmente únicas e belas, serão suas paisagens e suas águas cristalinas "azuis como a cor do mar". E ao término do cumprimento de minha ordem divina chamem-na de E Deus fez a Maravilha. Contudo, antes de partirem, o criador de todas as coisas designou os anjos Ariel, Gabriel e Raphael para a tarefa de fiscalizar as obras e a vida na cidade única por Ele planejada.
Rio: um porto desejado!
A Maravilha de Deus é contemplada.
Os fenícios podem ter sido os primeiros que aqui chegaram. Eles vislumbram um "Rio Alado". Algumas inscrições gravadas no alto da Pedra da Gávea permitem fantasiar sobre esta versão indubitavelmente mágica em sintonia com a natureza.
O Rio torna-se alvo irresistível para os navegadores portugueses e franceses, que ávidos da majestosa natureza, travam batalhas por seu valor inestimável.
Deus percebendo a cobiça e o crescente desejo pelo domínio de sua menina dos olhos promove São Sebastião a santo padroeiro da cidade. Credita-se a São Sebastião, o bem-aventurado, parte do nosso futuro sucesso como cidade. Dada a batalha final, é ele quem surge na visão do consciente imaginário português motivando-o a vencer e expulsar os invasores, fundando-se a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Império Tropical
Vendo através dos olhos dos homens, o nosso divino arquiteto dá condições à vida...
A Família Real desembarca no Rio de Janeiro. É a época da política do "Ponha-se na Rua", nome dado, com senso de humor, pelos cariocas, que se inspiravam nas iniciais "PR", de Príncipe Regente, que eram gravadas na porta das casas requisitadas para os nobres portugueses.
A Divindade transforma-se em uma realidade histórica. É a fonte cristalina das águas do Rio carioca. Suas águas correm, suprem as necessidades de abastecimento e chegam aos homens. Tornam-se as águas do Rio, dos escravos agueiros, dos caminhos dos aquedutos, das mães-d´água: das bicas públicas, dos chafarizes, das casas dos nobres.
Águas que molham o canto das lavadeiras nos riachos e atiçam o imaginário carioca: mulheres que delas bebiam ficavam formosas e os homens recuperavam o vigor físico. Seguindo o caminho das águas do Rio, a sabedoria divina é observada na natureza. Emerge da terra macia e fértil uma deslumbrante floresta urbana. Depois de emitidos os relatórios pelos anjos consultores de Deus, visando garantir a comunhão entre a natureza e a cultura dos seres humanos, conclui-se a Floresta que se denominou Floresta da Tijuca. Não obedecendo à ordem existente, o homem, nela, cultivou o plantio do café. A cafeicultura se espalhou rapidamente por grande parte do Maciço da Tijuca, ocasionando forte desmatamento, o que levou os barões e os senhores do café, os nobres e a crescente população da capital do Império a sentirem a ira de Deus.
Como resposta, atribui aos homens consequências desastrosas como as severas secas que atingiram o Rio de Janeiro, criando um problema periódico de falta d'água para a cidade carioca. Como se não bastasse, o governo imperial foi responsabilizado por um programa emergencial de preservação dos mananciais e do replantio das árvores da Floresta da Tijuca, seguido das desapropriações das fazendas cafeeiras da região.
Em contrapartida, o governo propôs o cultivo de um jardim, com o intuito de estimular a aclimatação e a cultura de especiarias exóticas vindas das Índias Orientais. A fluida terra desse jardim, nomeado, inicialmente, de Real Horto, Real Jardim Botânico e, finalmente, de Jardim Botânico do Rio de Janeiro, semeou-se de novas opções de plantio.
Nele, a mão de obra chinesa foi utilizada para testar a receptividade do solo carioca ao cultivo do chá. Contudo, diante da experiência marcada pelo insucesso, os chineses foram aproveitados para abrir uma via carroçável. Nesta obra, teriam feito seu acampamento onde hoje está localizada a Vista Chinesa, dando origem desta maneira a um dos mais belos mirantes da cidade do Rio.
Modernismo Carioca
São Clemente e São Sebastião, após se reunirem com os anjos fiscais das obras divinas, chegam à conclusão que devem, mesmo sabendo da conformação geográfica da cidade (constituída de elevações, lagoas e pântanos), encaminhar, para a aprovação do Conselho Deliberativo da Criação Divina, o programa urbanístico do engenheiro e prefeito Pereira Passos, que visa transformar a antiga cidade imperial em uma metrópole cosmopolita.
Sob esta ação, inicia-se no centro carioca uma grande intervenção. Em pouco tempo as picaretas do progresso abrem à cidade as vias da modernidade. Construção de grandes e largas avenidas, de praças e jardins; revitalização do cais do porto e arborização da Avenida Beira-Mar.
Entre planos estratégicos, riscos e traços, o Rio civiliza-se e é "rebatizado" de Cidade Maravilhosa. Conta-se, inclusive, que nessa época, Deus para proteger os seres aterrados, nomeou São Jorge como General da Guanabara. E salve Jorge!
Os princípios do projetar moderno, contudo, somente são aplicados nas décadas seguintes pelo estudo urbanístico do arquiteto Alfred Agache e dos projetos do arquiteto-paisagista Roberto Burle Marx que, entre outros, assina o projeto paisagístico do Parque do Flamengo.
Nesse contexto de grandes transformações, os belos cenários urbanos projetados e ordenados pelos novos meios técnicos do homem conjugam harmoniosamente as paisagens do Rio, possibilitando uma gestão cultural à altura do que a cidade única idealizada por Deus merece.
Música: a paisagem do Rio
A música é um dom divino. O som está por toda parte. É pura ilusão achar que a natureza é silenciosa.
A paisagem do Rio de janeiro situa-se no horizonte musical do carioca Villa-Lobos, que incorporou o folclore brasileiro às seduções urbanas do Rio de Janeiro; e no repertório original da pianista Chiquinha Gonzaga, autora da primeira marcha carnavalesca "Ô Abre-Alas".
Sobre as formas populares situa-se nos "chorões" das composições de Pixinguinha e nos aspectos mais descontraídos como o samba e todas as músicas de inspiração rítmica, que descem dos morros e interagem com a cidade. A Bossa Nova, o mais carioca dos estilos musicais, é o Rio que inspira "no doce balanço a caminho do mar". É a paisagem musical que canta a paixão do carioca pelo Rio, a benção divina que, de braços abertos, ilumina a vida, a diversidade de cores e de sabores, de flertes e de olhares, e de muitos amores.
A Bossa Nova gira em 78 rotações e redescobre o Rio de Janeiro. Universaliza, revoluciona, rompe fronteiras e leva a música do Brasil aos quatro cantos do mundo.
Rio Cidade!
Muito antes, o divino criador já anunciava: é preciso ter fé e redenção.
Cuidados com a cidade para sua preservação... Mais de 400 anos se passaram e a cidade única planejada por Deus é dominada pela Lei do mais forte, "que dita as normas e causa algumas imperfeições à cidade".
Não se vê mais o todo: a vida, as águas, a terra. A cidade cresce desordenadamente. O Homem autoriza, polui, e a "pobreza" chancela a construção em terras invadidas e em áreas inadequadas. As consequências são drásticas! Salve-se quem puder. Engarrafamentos, enchentes, deslizamentos, lixo, injustiças sociais e epidemias.
Esses efeitos chamam a atenção do nosso divino arquiteto, que intervém lançando um desafio para a cidade: no lugar do "progresso" e do crescimento ilimitado, hostil para a natureza do Rio, devem-se convocar todos os engenheiros, arquitetos e paisagistas e criar um grande planejamento para a reconstrução urbana da cidade. Isto porque, o Rio haverá de ser o responsável pela realização de dois grandes eventos mundiais.
Eis o meu desafio para garantir as condições de continuidade à vida nesta cidade.
Ser Carioca é...
· Ser abençoado por Deus e bonito por natureza.
· Ser carioca ou não, é se reconhecer na paisagem do Rio, nos seus morros, na sua geografia humana e nos seus estados de espírito.
· Ser carioca é sermos nós. São nossas manifestações, nossos costumes, nosso sotaque, nosso jeito de ser e nossa alegria de sermos lembrados e vistos em diversos pontos do mundo.
· Ser carioca é manter a aliança divina, quando contemplamos a beleza de um pôr do sol.
É uma explosão de cores. São encantos mil. É ser blasé com a própria rotina, é sorrir para o surreal, confiando nos próprios instintos.
É uma explosão de cores. São encantos mil. É ser blasé com a própria rotina, é sorrir para o surreal, confiando nos próprios instintos.
· É ser patrimônio cultural e observar a cidade em 360 graus.
Contudo, ser carioca é torcer pela carioquíssima São Clemente, é ser o Rio que eu canto e exalto, o mesmo Rio que Deus protege e cuida lá do alto.
Carnavalesco: Fábio Ricardo
Pesquisa e texto: Marcos Roza
Idéia original: Mauro Chaves
Desenvolvimento do enredo: Fábio Ricardo e Marcos Roza
Revisão e copidesque: Márcia Rinaldi
Pesquisa e texto: Marcos Roza
Idéia original: Mauro Chaves
Desenvolvimento do enredo: Fábio Ricardo e Marcos Roza
Revisão e copidesque: Márcia Rinaldi
GRES Imperatriz Leopoldinense
Imperatriz adverte: sambar faz bem à saúde!
Sinopse:
Uma viagem pelo tempo leva a Imperatriz a passear pela história da Medicina, conhecendo a sua origem e o seu desenvolvimento. A arte de salvar vidas deve ter sua importância enaltecida e merece essa grande homenagem oferecida pelos leopoldinenses. Deixe o tempo te levar...
Desperta a Velha África. Desperta do solo africano o poder de curar.
Nos primórdios de sua existência, o homem encontrava na caça de animais e na coleta de espécies vegetais, os meios para sua sobrevivência. Nômade por excelência, nutriu-se dos elementos naturais encontrados para exercer o poder da cura. Praticava rituais que buscavam o autoconhecimento e o equilíbrio do ser, através das manifestações da natureza e da compreensão de seus fenômenos.
Os sacerdotes africanos, primeiros praticantes da mágica arte da cura, evocavam a sabedoria da mãe-natureza para aprender o perfeito modo de utilização das plantas, raízes e ervas medicinais.
Batidas de tambor. Danças. Ervas. Curandeiros. Uma viagem espiritual ao encontro das formas de proteção e controle do corpo. A cura estava diretamente ligada à magia e à crença na força dos poderes da natureza e seus elementos.
Com o passar do tempo, diversas outras civilizações pelo mundo passaram a desenvolver seus próprios pensamentos médicos. Dentre elas, pode-se citar os hindus, fundadores da Ayurveda (Ciência da Vida); os semitas em geral, que acreditavam na noção de que a doença era um castigo divino; os mesopotâmios que viam uma relação entre a movimentação dos astros, a mudança das estações e as doenças; os chineses, através de sua medicina tradicional que se baseava na cura por plantas e outros elementos naturais; e, principalmente, os egípcios.
O esplendor da civilização do Egito Antigo trouxe a evolução do conhecimento de diversos procedimentos médicos, o uso de numerosas drogas e a realização de pequenas cirurgias, além da técnica da mumificação, marcando a história da arte de curar.
Um traço comum entre essas sociedades citadas é a profunda relação entre a religião e a prática da cura. Seus povos, diferentemente do homem pré-histórico, acreditavam na existência de deuses superiores aos homens, que seriam os verdadeiros responsáveis pela saúde e pela doença. Os deuses, não só eram os detentores do poder de curar e dos conhecimentos médicos, mas também respondiam pelo desequilíbrio do corpo humano e pelo envio das doenças e enfermidades.
A cura mítica ainda era a base da crença do povo da Antiguidade. A magia e a religião se enlaçavam e influenciavam a prática médica.
O povo da grande Grécia, inicialmente, sustentava suas crenças em sua mitologia, na qual os poderosos deuses influenciavam a vida e a morte, tendo o poder de curar ou provocar doenças. Os gregos acreditavam que a doença era um severo castigo dos céus, enquanto a cura, uma benção divina. Nos templos de Asclépio, Deus grego da Medicina, se realizavam rituais para curar, englobando banhos e poções para relaxar e adormecer, já que a cura deveria vir com os sonhos, durante o sono do enfermo.
Com o desenvolvimento do valor humanístico na Grécia, a prática da cura tomou um caráter racional, empregado principalmente por Pitágoras, o que possibilitou o surgimento de uma medicina verdadeiramente científica. Hipócrates, o pai da medicina desenvolveu métodos que se baseavam na filosofia, no raciocínio e na lógica, idealizando um modelo ético e humanista da prática médica.
A objetividade e a precisão se tornaram elementos imprescindíveis para o diagnóstico das enfermidades, sendo necessária a separação da Medicina da noção religiosa. Os estudos realizados pelos médicos passaram a substituir a fervorosa crença nos deuses e na cura pela magia pela observação empírica de seus pacientes.
Com o início do período da Idade Média, a ciência médica, assim como a vida humana, passou a ser dominada pela Igreja Católica. Esta, abafou o desenvolvimento científico e filosófico, trazendo tempos de trevas e pouca evolução para a Medicina. O conhecimento era restrito ao ambiente católico, tendo os monges como principais pensadores, que deveriam basear seus estudos na fé e na salvação da alma, ao invés da evolução científica. Para a Igreja Católica, o corpo do homem era intocável à dissecação, pois este representava o corpo de Cristo, considerando o estudo de anatomia algo pagão e inumano.
A desprezível falta de noção higiênica da sociedade medieval possibilitava a proliferação de diversas doenças, que se tornavam verdadeiras epidemias. A peste negra aterrorizou a população europeia e assolou o continente, deixando fortes marcas em seu chão.
Da escuridão, renasce a esperança com o surgimento do movimento humanista, no qual era centrado o Renascimento europeu. Um novo jeito de pensar. Uma nova mentalidade. O homem é o centro do universo. Em total contraponto à era medieval, o período renascentista trouxe diversos avanços e descobertas científicas para a Medicina. As universidades passaram a se distanciar das bases religiosas e dos credos eclesiásticos, focando nos estudos de anatomia e fisiologia, muito pesquisados por Leonardo da Vinci (pai da anatomia), Versalius e Michelangelo.
Brilha. Reluz o século das luzes. Com o advento do Iluminismo, correntes filosóficas surgem na Medicina, enfatizando o uso da razão e da ciência para explicar o universo. Um grande desenvolvimento das especialidades médicas, como a Cardiologia, a Obstetrícia e a Pediatria tiveram um grande destaque, apresentando novos caminhos para a evolução da medicina moderna. A criação do microscópio, do termo célula, da homeopatia, além das diversas descobertas na física, química e outras áreas, foram importantes acontecimentos iluministas, que possibilitaram o progresso da Medicina em geral.
Todas as evoluções demonstradas nos períodos anteriores se tornaram base para o grande desenvolvimento que a Medicina contemporânea apresentou e continua a nos apresentar. Sua evolução é constante e surpreendente. A imunização preventiva, a descoberta do raio X, a descoberta de novos medicamentos, e a cirurgia plástica são frutos deste esforço da Ciência Médica. Apesar dos debates éticos trazidos pela sociedade civil, os estudos de genética e células artificiais trazem esperança para a criação de novos remédios e vacinas preventivas. Além disso, a evolução dos estudos do DNA, traz os segredos da “Chave da Vida”, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas relativas à clonagem.
A Medicina e a arte de curar estão sempre em evolução. O estudo e as pesquisas são extremamente necessários, para que a construção de novas técnicas de cura ou novas formas de prevenção a doenças surjam.
Povo do Brasil, povo carioca, de bem com a vida, feliz e festeiro, vai buscar no carnaval e no samba a sua felicidade e a cura para os seus problemas. O brasileiro encontra o seu bem-estar ao vestir a sua fantasia e passar pela passarela da imaginação, ao ouvir a batucada da bateria, ao sentir o pulsar do surdo como se fosse o seu próprio coração, ao ouvir a melodia do cavaquinho,...
O povo quer sambar, quer encontrar uma forma de esquecer os seus problemas. Sai pra lá, dengue! Sai pra lá gripe suína!
O que resta a este povo guerreiro é a felicidade. Rio de Janeiro, palco do maior carnaval do mundo. Venha para cá e encontre no samba a cura para a sua dor.
Deixe o prazer do samba e do carnaval dominarem seu corpo. Com o prazer que sentimos, nosso corpo libera uma substância chamada endorfina. Esse hormônio, ao ser liberado, viaja pelo nosso organismo, oferecendo uma sensação de bem-estar, conforto, tranquilidade e felicidade.
Sinta o “hormônio da alegria” correr e alivie a sua dor sambando. O samba também faz bem para o corpo e para a mente.
Além disso, devemos reconhecer os grandes esforços dos médicos brasileiros, que tentaram, de diversas formas, trazer saúde ao nosso povo e conhecimentos para a evolução de novas técnicas médicas. Oswaldo Cruz. Carlos Chagas. Vital Brazil. Ivo Pitanguy. E muitos outros.
Parabéns médicos brasileiros! Parabéns médicos de todo mundo!
Não perdendo o espírito carnavalesco, podemos afirmar que, mesmo com toda a evolução que a Medicina tem nos apresentado e com todo o seu desenvolvimento, de acordo com a letra da marchinha dos antigos carnavais, ainda está pra nascer o doutor que cure a eterna dor de cotovelo.
“Penicilina cura até defunto
Petróleo bruto faz nascer cabelo
Mas ainda está pra nascer, O doutor
Que cure a dor de cotovelo”
Marchinha de Klécus Caldas e Armando Cavalcanti
Sambista, esqueça a dor! Vista a fantasia e caia na folia com a Imperatriz!
Sambar faz bem à saúde!
Uma viagem pelo tempo leva a Imperatriz a passear pela história da Medicina, conhecendo a sua origem e o seu desenvolvimento. A arte de salvar vidas deve ter sua importância enaltecida e merece essa grande homenagem oferecida pelos leopoldinenses. Deixe o tempo te levar...
Desperta a Velha África. Desperta do solo africano o poder de curar.
Nos primórdios de sua existência, o homem encontrava na caça de animais e na coleta de espécies vegetais, os meios para sua sobrevivência. Nômade por excelência, nutriu-se dos elementos naturais encontrados para exercer o poder da cura. Praticava rituais que buscavam o autoconhecimento e o equilíbrio do ser, através das manifestações da natureza e da compreensão de seus fenômenos.
Os sacerdotes africanos, primeiros praticantes da mágica arte da cura, evocavam a sabedoria da mãe-natureza para aprender o perfeito modo de utilização das plantas, raízes e ervas medicinais.
Batidas de tambor. Danças. Ervas. Curandeiros. Uma viagem espiritual ao encontro das formas de proteção e controle do corpo. A cura estava diretamente ligada à magia e à crença na força dos poderes da natureza e seus elementos.
Com o passar do tempo, diversas outras civilizações pelo mundo passaram a desenvolver seus próprios pensamentos médicos. Dentre elas, pode-se citar os hindus, fundadores da Ayurveda (Ciência da Vida); os semitas em geral, que acreditavam na noção de que a doença era um castigo divino; os mesopotâmios que viam uma relação entre a movimentação dos astros, a mudança das estações e as doenças; os chineses, através de sua medicina tradicional que se baseava na cura por plantas e outros elementos naturais; e, principalmente, os egípcios.
O esplendor da civilização do Egito Antigo trouxe a evolução do conhecimento de diversos procedimentos médicos, o uso de numerosas drogas e a realização de pequenas cirurgias, além da técnica da mumificação, marcando a história da arte de curar.
Um traço comum entre essas sociedades citadas é a profunda relação entre a religião e a prática da cura. Seus povos, diferentemente do homem pré-histórico, acreditavam na existência de deuses superiores aos homens, que seriam os verdadeiros responsáveis pela saúde e pela doença. Os deuses, não só eram os detentores do poder de curar e dos conhecimentos médicos, mas também respondiam pelo desequilíbrio do corpo humano e pelo envio das doenças e enfermidades.
A cura mítica ainda era a base da crença do povo da Antiguidade. A magia e a religião se enlaçavam e influenciavam a prática médica.
O povo da grande Grécia, inicialmente, sustentava suas crenças em sua mitologia, na qual os poderosos deuses influenciavam a vida e a morte, tendo o poder de curar ou provocar doenças. Os gregos acreditavam que a doença era um severo castigo dos céus, enquanto a cura, uma benção divina. Nos templos de Asclépio, Deus grego da Medicina, se realizavam rituais para curar, englobando banhos e poções para relaxar e adormecer, já que a cura deveria vir com os sonhos, durante o sono do enfermo.
Com o desenvolvimento do valor humanístico na Grécia, a prática da cura tomou um caráter racional, empregado principalmente por Pitágoras, o que possibilitou o surgimento de uma medicina verdadeiramente científica. Hipócrates, o pai da medicina desenvolveu métodos que se baseavam na filosofia, no raciocínio e na lógica, idealizando um modelo ético e humanista da prática médica.
A objetividade e a precisão se tornaram elementos imprescindíveis para o diagnóstico das enfermidades, sendo necessária a separação da Medicina da noção religiosa. Os estudos realizados pelos médicos passaram a substituir a fervorosa crença nos deuses e na cura pela magia pela observação empírica de seus pacientes.
Com o início do período da Idade Média, a ciência médica, assim como a vida humana, passou a ser dominada pela Igreja Católica. Esta, abafou o desenvolvimento científico e filosófico, trazendo tempos de trevas e pouca evolução para a Medicina. O conhecimento era restrito ao ambiente católico, tendo os monges como principais pensadores, que deveriam basear seus estudos na fé e na salvação da alma, ao invés da evolução científica. Para a Igreja Católica, o corpo do homem era intocável à dissecação, pois este representava o corpo de Cristo, considerando o estudo de anatomia algo pagão e inumano.
A desprezível falta de noção higiênica da sociedade medieval possibilitava a proliferação de diversas doenças, que se tornavam verdadeiras epidemias. A peste negra aterrorizou a população europeia e assolou o continente, deixando fortes marcas em seu chão.
Da escuridão, renasce a esperança com o surgimento do movimento humanista, no qual era centrado o Renascimento europeu. Um novo jeito de pensar. Uma nova mentalidade. O homem é o centro do universo. Em total contraponto à era medieval, o período renascentista trouxe diversos avanços e descobertas científicas para a Medicina. As universidades passaram a se distanciar das bases religiosas e dos credos eclesiásticos, focando nos estudos de anatomia e fisiologia, muito pesquisados por Leonardo da Vinci (pai da anatomia), Versalius e Michelangelo.
Brilha. Reluz o século das luzes. Com o advento do Iluminismo, correntes filosóficas surgem na Medicina, enfatizando o uso da razão e da ciência para explicar o universo. Um grande desenvolvimento das especialidades médicas, como a Cardiologia, a Obstetrícia e a Pediatria tiveram um grande destaque, apresentando novos caminhos para a evolução da medicina moderna. A criação do microscópio, do termo célula, da homeopatia, além das diversas descobertas na física, química e outras áreas, foram importantes acontecimentos iluministas, que possibilitaram o progresso da Medicina em geral.
Todas as evoluções demonstradas nos períodos anteriores se tornaram base para o grande desenvolvimento que a Medicina contemporânea apresentou e continua a nos apresentar. Sua evolução é constante e surpreendente. A imunização preventiva, a descoberta do raio X, a descoberta de novos medicamentos, e a cirurgia plástica são frutos deste esforço da Ciência Médica. Apesar dos debates éticos trazidos pela sociedade civil, os estudos de genética e células artificiais trazem esperança para a criação de novos remédios e vacinas preventivas. Além disso, a evolução dos estudos do DNA, traz os segredos da “Chave da Vida”, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas relativas à clonagem.
A Medicina e a arte de curar estão sempre em evolução. O estudo e as pesquisas são extremamente necessários, para que a construção de novas técnicas de cura ou novas formas de prevenção a doenças surjam.
Povo do Brasil, povo carioca, de bem com a vida, feliz e festeiro, vai buscar no carnaval e no samba a sua felicidade e a cura para os seus problemas. O brasileiro encontra o seu bem-estar ao vestir a sua fantasia e passar pela passarela da imaginação, ao ouvir a batucada da bateria, ao sentir o pulsar do surdo como se fosse o seu próprio coração, ao ouvir a melodia do cavaquinho,...
O povo quer sambar, quer encontrar uma forma de esquecer os seus problemas. Sai pra lá, dengue! Sai pra lá gripe suína!
O que resta a este povo guerreiro é a felicidade. Rio de Janeiro, palco do maior carnaval do mundo. Venha para cá e encontre no samba a cura para a sua dor.
Deixe o prazer do samba e do carnaval dominarem seu corpo. Com o prazer que sentimos, nosso corpo libera uma substância chamada endorfina. Esse hormônio, ao ser liberado, viaja pelo nosso organismo, oferecendo uma sensação de bem-estar, conforto, tranquilidade e felicidade.
Sinta o “hormônio da alegria” correr e alivie a sua dor sambando. O samba também faz bem para o corpo e para a mente.
Além disso, devemos reconhecer os grandes esforços dos médicos brasileiros, que tentaram, de diversas formas, trazer saúde ao nosso povo e conhecimentos para a evolução de novas técnicas médicas. Oswaldo Cruz. Carlos Chagas. Vital Brazil. Ivo Pitanguy. E muitos outros.
Parabéns médicos brasileiros! Parabéns médicos de todo mundo!
Não perdendo o espírito carnavalesco, podemos afirmar que, mesmo com toda a evolução que a Medicina tem nos apresentado e com todo o seu desenvolvimento, de acordo com a letra da marchinha dos antigos carnavais, ainda está pra nascer o doutor que cure a eterna dor de cotovelo.
“Penicilina cura até defunto
Petróleo bruto faz nascer cabelo
Mas ainda está pra nascer, O doutor
Que cure a dor de cotovelo”
Marchinha de Klécus Caldas e Armando Cavalcanti
Sambista, esqueça a dor! Vista a fantasia e caia na folia com a Imperatriz!
Sambar faz bem à saúde!
Carnavalesco: Max Lopes
Pesquisa e Texto: Emanoel Campos Filho e Gabriel Haddad
Pesquisa e Texto: Emanoel Campos Filho e Gabriel Haddad
GRES Mocidade Independente de Padre Miguel
Parábola dos Divinos Semeadores
Introdução:
Com a última glaciação, o gelo e a neve cederam lentamente.
Uma estrela incandescente brilhou no horizonte primitivo e espalhando luz e calor fez a vida explodir em cores e fartura. O homem, enfim, se libertou das cavernas e festejou.
As forças da natureza foram transformadas em deuses e as respostas para o desconhecido eram encontradas pelos feiticeiros primitivos nos raios e trovões, nas águas, nas matas e nos mistérios da terra.
De caçadores coletores até se tornarem semeadores, nossos ancestrais atravessaram um longo caminho, muitas vezes marcado por pedras e espinhos.
À medida que a agricultura e a criação se estabeleceram as plantas das quais dependiam homens e animais para se alimentar tornam-se crucialmente importantes e os ciclos Da natureza passaram a ser fator dominante e foco de atenção mágica e religiosa.
O plantio e a colheita se transformaram nos grandes acontecimentos do ano e eram celebrados com festivais e ritos que pretendiam assegurar um bom resultado.
Foi através desta reverência à natureza que o homem começou a entrar no reino da utopia através das comemorações: no momento da festa se desligava das coisas ruins como o inverno e as enchentes, que concretamente, tinham ido embora e saudava o que lhe parecia um bem, como a chegada da primavera e o nascer do sol, com danças e cânticos, em torno das fogueiras, para espantar os espíritos do mal e as forças negativas que prejudicavam o plantio.
Em uma deliciosa viagem através destas festas, rituais e celebrações em louvor aos deuses da agricultura e que depois foram abraçadas e remodeladas pelo catolicismo, encontramos a origem, a raiz da frondosa árvore que é o carnaval do Rio de Janeiro.
E é no templo sagrado dos desfiles das escolas de samba que vamos relembrar em ritmo de comemoração as nossas origens agrárias e agrícolas, afinal festejar é o que fazemos melhor.
Louvadas sejam os divinos semeadores do carnaval!
Viva a folia!
Desenvolvimento:
A primeira semente: depois do degelo, eis que surge o caminho.
Em um tempo muito distante, grande parte das sagradas terras africanas encontravam-se sob o domínio do frio. Um império branco e gelado que matinha o homem primitivo praticamente prisioneiro das cavernas.
Certa manhã, uma estrela incadescente reluziu intensamente no horizonte; um forte clarão cortou o nevoeiro e espalhou-se pela palidez da paisagem, anunciando um deslumbrante espetáculo de luz e calor. Aos poucos, o branco do gelo e da neve foi sendo matizado pelo verde da vegetação, que surgia vigorosa. Assim, nossos ancestrais saíram da toca e festejaram.
A vida explodiu em cores e fartura. Plantas de todos os tipos, diversas espécies de frutas e animais variados passaram a dominar o cenário renovado. O poder dos raios e trovões, os mistérios das águas e da terra e os segredos das matas passaram a ser reverenciados por guias espirituais escolhidos entre os mais sábios de cada tribo. Nas celebrações, esses feiticeiros cantavam e dançavam enfeitados com folhas e máscaras em torno de fogueiras para afastar os maus espíritos e garantir as boas colheitas.
De festa em festa e de ritual em ritual, o homem evoluiu e descobriu o milagre da vida contido no interior dos grãos e sementes que se manifestavam quando estes alcançavam o solo.
Ao se tornar, então, semeador, o homem criou raiz e se fixou na terra.
A segunda semente: sobre pedras pagãs, ergueram-se templos de adoração.
As cavernas geladas, cada vez mais, faziam parte do passado e os campos, agora cultivados, sinalizavam um mundo em transformação.
Grandiosas civilizações floresceram, templos de pedra e magníficos palácios foram construídos; rituais de sacrifício e cânticos de louvor ecoaram em celebração à fertilidade da terra.
Deuses da agricultura e animais sagrados se juntaram aos deuses dos raios e trovões, das águas, da terra e das matas consolidando um poderoso panteão agrícola que atravessaria as fronteiras do tempo e do espaço nos lombos de camelos e cavalos.
No antigo Egito, tochas e incensos impregnavam de magia os grandiosos banquetes em honra à deusa Ísis, senhora da agricultura, enquanto majestosos cortejos reverenciavam o Boi Ápis.
Na Grécia, alegres festivais de músicas, danças sensuais e farta distribuição de vinho embalavam as festividades em homenagem a Dionísio, deus protetor das parreiras, e eram marcadas por uma deliciosa inversão de papéis: o miserável se vestia de rei e machos reconhecidos se fantasiavam de fêmeas.
Em Roma pagã, as festas da primavera anunciavam as Saturnálias em homenagem ao deus italiano da agricultura e, num momento de grande euforia, Saturno era saudado calorosamente pelo povo. Na ocasião, a cidade com as ruas ricamente decoradas com flores, era governada por um rei escolhido entre os pobres e, do alto de seu "carro naval", Momo, o soberano da alegria, comandava a farra que não tinha hora para acabar.
A terceira semente: a festança é sufocada pelos espinhos de uma nova religião.
Espremida entre as celebrações pagãs, surge em Roma uma nova religião.
Enquanto pregava a fraternidade, o Catolicismo logo tentou sufocar as origens dessas manifestações e, aos poucos, os festejos vão sendo modificados.
Dessa maneira, o dia dedicado às comemorações da Saturnália passou a determinar o nascimento de Jesus em um estábulo cercado por bois, ovelhas e pastores, em uma cena tipicamente agrícola.
O pão e o vinho, símbolos dos rituais e festas pagãs, foram transformados no corpo de ostensório dourado e foi colocado nas cabeças das imagens dos mártires católicos.
Subjugada pelo clero romano, a "ritualística primitiva" foi transformada em uma celebração marcada por banhos de cheiro, fantasias e desfiles alegóricos.
Ao incorporar personagens da Comédia Dell' art, o novo formato acabou por conquistar as cidades de Nice, Roma e Veneza e invadiu os salões da nobreza com seus requintados bailes de máscaras.
Nascia, assim, o "carnevalle", comemorado nos dias que antecediam a Quaresma e que, feito sementes sopradas pelo vento, espalhou-se pelos quatro cantos do mundo.
A quarta semente: "...e nesta boa terra, cresceu e produziu a cento por um".
No Brasil, essas divinas sementes encontraram solo fértil e abençoado. Lançadas aos diversos recantos do nosso torrão, rapidamente germinaram e se multiplicaram, dando frutos com características próprias.
De Norte a Sul desta nação, virou manifestação popular.
O boi que veio de tão longe, lá do Norte, também se tornou sagrado: "é boi Ápis pra lá, é bumba-meu-boi, meu boi-bumbá pra cá".
No Nordeste, a festa do deus Sol se transformou em festa de São João e a comilança não pode faltar: tem milho assado, tem arroz doce, garapa de cana, um bom cafezinho e fogueira acesa "pra" esquentar.
Tem festa da uva nos Pampas e cavalhadas no Cerrado; mas, foi aqui no Rio de Janeiro que a mais beca e formosa das sementes encontrou o seu lugar. Misturando as festas e celebrações que vieram da Europa com a magia que desembarcou com os negros africanos, criamos o nosso próprio ritual. Cantando, dançando e batucando com alegria sem igual, acrescentamos tempero à festança, reinventamos o carnaval.
Hoje, celebramos o nosso passado agrário e agrícola enquanto festejamos o nosso presente como o maior espetáculo Da Terra e, quando esse t al de futuro chegar e a folia for levada "pro" espaço sideral, estará, na verdade, voltando ao início, encontrando-se com o próprio passado e fechando um ciclo.
Afinal, vale lembrar que tudo começou com o brilho incandescente de uma estrela que derreteu a neve e fez a folia começar.
Viva o carnaval!!!
Com a última glaciação, o gelo e a neve cederam lentamente.
Uma estrela incandescente brilhou no horizonte primitivo e espalhando luz e calor fez a vida explodir em cores e fartura. O homem, enfim, se libertou das cavernas e festejou.
As forças da natureza foram transformadas em deuses e as respostas para o desconhecido eram encontradas pelos feiticeiros primitivos nos raios e trovões, nas águas, nas matas e nos mistérios da terra.
De caçadores coletores até se tornarem semeadores, nossos ancestrais atravessaram um longo caminho, muitas vezes marcado por pedras e espinhos.
À medida que a agricultura e a criação se estabeleceram as plantas das quais dependiam homens e animais para se alimentar tornam-se crucialmente importantes e os ciclos Da natureza passaram a ser fator dominante e foco de atenção mágica e religiosa.
O plantio e a colheita se transformaram nos grandes acontecimentos do ano e eram celebrados com festivais e ritos que pretendiam assegurar um bom resultado.
Foi através desta reverência à natureza que o homem começou a entrar no reino da utopia através das comemorações: no momento da festa se desligava das coisas ruins como o inverno e as enchentes, que concretamente, tinham ido embora e saudava o que lhe parecia um bem, como a chegada da primavera e o nascer do sol, com danças e cânticos, em torno das fogueiras, para espantar os espíritos do mal e as forças negativas que prejudicavam o plantio.
Em uma deliciosa viagem através destas festas, rituais e celebrações em louvor aos deuses da agricultura e que depois foram abraçadas e remodeladas pelo catolicismo, encontramos a origem, a raiz da frondosa árvore que é o carnaval do Rio de Janeiro.
E é no templo sagrado dos desfiles das escolas de samba que vamos relembrar em ritmo de comemoração as nossas origens agrárias e agrícolas, afinal festejar é o que fazemos melhor.
Louvadas sejam os divinos semeadores do carnaval!
Viva a folia!
Desenvolvimento:
A primeira semente: depois do degelo, eis que surge o caminho.
Em um tempo muito distante, grande parte das sagradas terras africanas encontravam-se sob o domínio do frio. Um império branco e gelado que matinha o homem primitivo praticamente prisioneiro das cavernas.
Certa manhã, uma estrela incadescente reluziu intensamente no horizonte; um forte clarão cortou o nevoeiro e espalhou-se pela palidez da paisagem, anunciando um deslumbrante espetáculo de luz e calor. Aos poucos, o branco do gelo e da neve foi sendo matizado pelo verde da vegetação, que surgia vigorosa. Assim, nossos ancestrais saíram da toca e festejaram.
A vida explodiu em cores e fartura. Plantas de todos os tipos, diversas espécies de frutas e animais variados passaram a dominar o cenário renovado. O poder dos raios e trovões, os mistérios das águas e da terra e os segredos das matas passaram a ser reverenciados por guias espirituais escolhidos entre os mais sábios de cada tribo. Nas celebrações, esses feiticeiros cantavam e dançavam enfeitados com folhas e máscaras em torno de fogueiras para afastar os maus espíritos e garantir as boas colheitas.
De festa em festa e de ritual em ritual, o homem evoluiu e descobriu o milagre da vida contido no interior dos grãos e sementes que se manifestavam quando estes alcançavam o solo.
Ao se tornar, então, semeador, o homem criou raiz e se fixou na terra.
A segunda semente: sobre pedras pagãs, ergueram-se templos de adoração.
As cavernas geladas, cada vez mais, faziam parte do passado e os campos, agora cultivados, sinalizavam um mundo em transformação.
Grandiosas civilizações floresceram, templos de pedra e magníficos palácios foram construídos; rituais de sacrifício e cânticos de louvor ecoaram em celebração à fertilidade da terra.
Deuses da agricultura e animais sagrados se juntaram aos deuses dos raios e trovões, das águas, da terra e das matas consolidando um poderoso panteão agrícola que atravessaria as fronteiras do tempo e do espaço nos lombos de camelos e cavalos.
No antigo Egito, tochas e incensos impregnavam de magia os grandiosos banquetes em honra à deusa Ísis, senhora da agricultura, enquanto majestosos cortejos reverenciavam o Boi Ápis.
Na Grécia, alegres festivais de músicas, danças sensuais e farta distribuição de vinho embalavam as festividades em homenagem a Dionísio, deus protetor das parreiras, e eram marcadas por uma deliciosa inversão de papéis: o miserável se vestia de rei e machos reconhecidos se fantasiavam de fêmeas.
Em Roma pagã, as festas da primavera anunciavam as Saturnálias em homenagem ao deus italiano da agricultura e, num momento de grande euforia, Saturno era saudado calorosamente pelo povo. Na ocasião, a cidade com as ruas ricamente decoradas com flores, era governada por um rei escolhido entre os pobres e, do alto de seu "carro naval", Momo, o soberano da alegria, comandava a farra que não tinha hora para acabar.
A terceira semente: a festança é sufocada pelos espinhos de uma nova religião.
Espremida entre as celebrações pagãs, surge em Roma uma nova religião.
Enquanto pregava a fraternidade, o Catolicismo logo tentou sufocar as origens dessas manifestações e, aos poucos, os festejos vão sendo modificados.
Dessa maneira, o dia dedicado às comemorações da Saturnália passou a determinar o nascimento de Jesus em um estábulo cercado por bois, ovelhas e pastores, em uma cena tipicamente agrícola.
O pão e o vinho, símbolos dos rituais e festas pagãs, foram transformados no corpo de ostensório dourado e foi colocado nas cabeças das imagens dos mártires católicos.
Subjugada pelo clero romano, a "ritualística primitiva" foi transformada em uma celebração marcada por banhos de cheiro, fantasias e desfiles alegóricos.
Ao incorporar personagens da Comédia Dell' art, o novo formato acabou por conquistar as cidades de Nice, Roma e Veneza e invadiu os salões da nobreza com seus requintados bailes de máscaras.
Nascia, assim, o "carnevalle", comemorado nos dias que antecediam a Quaresma e que, feito sementes sopradas pelo vento, espalhou-se pelos quatro cantos do mundo.
A quarta semente: "...e nesta boa terra, cresceu e produziu a cento por um".
No Brasil, essas divinas sementes encontraram solo fértil e abençoado. Lançadas aos diversos recantos do nosso torrão, rapidamente germinaram e se multiplicaram, dando frutos com características próprias.
De Norte a Sul desta nação, virou manifestação popular.
O boi que veio de tão longe, lá do Norte, também se tornou sagrado: "é boi Ápis pra lá, é bumba-meu-boi, meu boi-bumbá pra cá".
No Nordeste, a festa do deus Sol se transformou em festa de São João e a comilança não pode faltar: tem milho assado, tem arroz doce, garapa de cana, um bom cafezinho e fogueira acesa "pra" esquentar.
Tem festa da uva nos Pampas e cavalhadas no Cerrado; mas, foi aqui no Rio de Janeiro que a mais beca e formosa das sementes encontrou o seu lugar. Misturando as festas e celebrações que vieram da Europa com a magia que desembarcou com os negros africanos, criamos o nosso próprio ritual. Cantando, dançando e batucando com alegria sem igual, acrescentamos tempero à festança, reinventamos o carnaval.
Hoje, celebramos o nosso passado agrário e agrícola enquanto festejamos o nosso presente como o maior espetáculo Da Terra e, quando esse t al de futuro chegar e a folia for levada "pro" espaço sideral, estará, na verdade, voltando ao início, encontrando-se com o próprio passado e fechando um ciclo.
Afinal, vale lembrar que tudo começou com o brilho incandescente de uma estrela que derreteu a neve e fez a folia começar.
Viva o carnaval!!!
Cid Carvalho
GRES Unidos da Tijuca
Esta noite levarei sua alma
Sinopse:
Todas as noites vocês voltam. Arrastam-se até aqui, pagam, entram e, em pouco tempo, estão rezando para sair. Mas não há como desistir. Depois que embarcam, não têm mais forças para levantar antes de chegar ao final. Precisam saber como tudo vai terminar ou nunca mais encontrarão tranquilidade. Serão incapazes de permanecer sozinhos, tremerão a cada ruído, perderão os sentidos, vagando durante noites de pavor. Então, venham…
Entreguem suas almas, descubram suas fraquezas, encontrem o fim. Todos têm o mesmo rosto: a boca trincada, os olhos de espanto, as mãos frias, o medo de atravessar. Retorcem seus corpos nos assentos, não conseguem se mexer, sair do lugar, enfrentam cada etapa. Querem o escuro e o silêncio. Estão imóveis, apavorados, indefesos. A expressão de horror acompanha o choro, o lamento, o grito, o grunhido, a explosão, o ruído, as máquinas de destruição. A ameaça pode assumir qualquer forma. Pode estar em qualquer lugar. Alguns virão para defendê-los. A maioria virá para destruí-los…
E, através dos séculos, o desejo da conquista espalhará luta e sofrimento. E o mundo se dividirá entre os homens da guerra e os homens da paz. Algozes e vítimas. Senhores e escravos. Não importa onde: nas aldeias, nos campos, travam batalhas que derrubam corpos nas areias e pelas cidades; na Terra ou em outros planetas. Virão de todos os lugares. E vocês permanecem assim: assistindo a tudo, vendo cada cena e se emocionando. Segurando a espada e sentindo a dor do ferimento, a tristeza da perda, o temor do próximo ataque. De onde virá? Forças estranhas vêm do além, seres fantásticos atravessam o espaço devorando planetas. Nada sobrevive ao seu poder devastador.
Vocês presenciam o inabalável ataque das trevas, sofrem com a tragédia da miséria humana, temem os espíritos furiosos, suportam o sofrimento da incerteza, a dor da mentira, a angústia do preconceito. Esperam por aqueles que serão capazes de combater as injustiças, transformar cordeiros em leões, caçar os fantasmas, conceber mirabolantes planos de fuga ou, simplesmente, exercitar o direito à liberdade, transcender limites, explodir fronteiras. Perseguir seus desejos a qualquer preço, em qualquer lugar. Mesmo que isso se torne uma obsessão por devorar suas vítimas. Transformar algozes mercenários em covardes, diante do temor de um reencontro. Ou defensores da vida, em vítimas da ganância de covardes. Destemidos? Sim, mas até quando…
Talvez se vocês tivessem escolhido uma vida mais tranquila, no campo ou numa cidadezinha do interior… Será? Cada um colhe o que planta. E esse pode ser o começo do fim. Não adianta se esconder, ele vai te encontrar. E pode ser onde menos se espera. Nas brincadeiras divertidas da infância, na entrega ao riso fácil quando se desarmam as defesas. Na procura pelo segredo que jamais deveria ter sido revelado. Cuidado, lá se esconde o terror. Como se livrar dele?
A maldição, para alguns, deve arder na fogueira. Para outros, é preciso punir o mal, enfrentando aqueles que causam tristeza, morte e dor. Não importa. Herege ou bruxo, demônio ou santo, quem encontrar a resposta poderá ser a próxima ameaça a ser controlada.
Estão com medo… Por que ainda temem, se já embarcaram e não há mais nada a fazer? Já sentiram isso antes? Certamente, porque aqui estão. Então, prossigam… Vençam suas batalhas, enfrentem suas assombrações. Mas sem esquecer que elas voltam, sempre voltam… Por mais que vocês tentem se livrar, elas querem vingança e não desistirão. A maldição nunca será vencida, ela não termina, ressurge quando já não mais se acredita que possa existir. Vocês podem até se esconder e rezar. Mas não vão escapar. Quando a extinção termina, o desafio começa. Seres pré-históricos, violentos, abomináveis. Tenham medo, porque esse pode ser o último mergulho… Talvez eles sequer estejam vivos. Muito além da morte e da imaginação, haverá uma aventura que viverá por toda a eternidade. Sobrevivam a ela, se forem capazes. E, se não forem, peçam ajuda.
Podem acreditar que estarei sempre ao lado, espreitando… Aguardando o momento em que, exaustos, vocês desistirão. E se entregarão, sem luta, à impossibilidade.
Não sentem a brisa quente e o perfume delicioso dos frutos, só o calor sufocante? Desejam o descanso da longa travessia? Sofram, então, porque não é possível voltar. Esta viagem não tem retorno. Em pouco tempo, sentirão o peso dos grilhões, a dor da chibata, o sofrimento do exílio, o desejo pela liberdade.
Mas o que está acontecendo aqui? Não me obedecem? Por que continuam a resistir, se não haverá um só homem de pé que possa testemunhar tanta bravura? Todos irão comigo e desaparecerão. Novos tormentos virão, crueldade, ignorância, estupidez. Não querem aceitar o domínio? Não desistem jamais? Lutam contra a opressão, querem voltar para casa? Caminham juntos, aos milhares, aonde irão? Não percebem que não adianta? Ninguém voltou jamais, acreditem! Que força é essa a que assisto sem nada poder fazer? Como trazê-los de volta ao pesadelo? Pareciam tão frágeis ao menor sinal de tempestade, e, no entanto, renascem! Afinal, o que os assusta realmente? Pareciam mortos de medo, incapazes de reagir e, agora… Como ousam? Me enganam e zombam de mim? Para onde estávamos indo? Não podemos mais voltar porque, enfim, chegamos. Aqui estamos. Esperavam por nós.
E vocês se divertiam comigo esse tempo todo, não? Então, me enganavam? Mudavam sem que eu percebesse? Só agora entendi que me conduziam, faziam de mim personagem de um filme em que eu não poderia decidir o final. Nas telas ou na vida real, dominam a arte do começo sem fim. Recomeço. Aí estão, deixando para o futuro a ousadia de um passado sem medo. E, a cada ano, surgem novos personagens, novas histórias de lutas e glórias. De simplicidade e força. Porque têm a certeza de que o que está na outra margem é mais um motivo para eternizar a vida. A história de um povo de coragem, que possui o surpreendente poder de se reinventar. Fim?
Todas as noites vocês voltam. Arrastam-se até aqui, pagam, entram e, em pouco tempo, estão rezando para sair. Mas não há como desistir. Depois que embarcam, não têm mais forças para levantar antes de chegar ao final. Precisam saber como tudo vai terminar ou nunca mais encontrarão tranquilidade. Serão incapazes de permanecer sozinhos, tremerão a cada ruído, perderão os sentidos, vagando durante noites de pavor. Então, venham…
Entreguem suas almas, descubram suas fraquezas, encontrem o fim. Todos têm o mesmo rosto: a boca trincada, os olhos de espanto, as mãos frias, o medo de atravessar. Retorcem seus corpos nos assentos, não conseguem se mexer, sair do lugar, enfrentam cada etapa. Querem o escuro e o silêncio. Estão imóveis, apavorados, indefesos. A expressão de horror acompanha o choro, o lamento, o grito, o grunhido, a explosão, o ruído, as máquinas de destruição. A ameaça pode assumir qualquer forma. Pode estar em qualquer lugar. Alguns virão para defendê-los. A maioria virá para destruí-los…
E, através dos séculos, o desejo da conquista espalhará luta e sofrimento. E o mundo se dividirá entre os homens da guerra e os homens da paz. Algozes e vítimas. Senhores e escravos. Não importa onde: nas aldeias, nos campos, travam batalhas que derrubam corpos nas areias e pelas cidades; na Terra ou em outros planetas. Virão de todos os lugares. E vocês permanecem assim: assistindo a tudo, vendo cada cena e se emocionando. Segurando a espada e sentindo a dor do ferimento, a tristeza da perda, o temor do próximo ataque. De onde virá? Forças estranhas vêm do além, seres fantásticos atravessam o espaço devorando planetas. Nada sobrevive ao seu poder devastador.
Vocês presenciam o inabalável ataque das trevas, sofrem com a tragédia da miséria humana, temem os espíritos furiosos, suportam o sofrimento da incerteza, a dor da mentira, a angústia do preconceito. Esperam por aqueles que serão capazes de combater as injustiças, transformar cordeiros em leões, caçar os fantasmas, conceber mirabolantes planos de fuga ou, simplesmente, exercitar o direito à liberdade, transcender limites, explodir fronteiras. Perseguir seus desejos a qualquer preço, em qualquer lugar. Mesmo que isso se torne uma obsessão por devorar suas vítimas. Transformar algozes mercenários em covardes, diante do temor de um reencontro. Ou defensores da vida, em vítimas da ganância de covardes. Destemidos? Sim, mas até quando…
Talvez se vocês tivessem escolhido uma vida mais tranquila, no campo ou numa cidadezinha do interior… Será? Cada um colhe o que planta. E esse pode ser o começo do fim. Não adianta se esconder, ele vai te encontrar. E pode ser onde menos se espera. Nas brincadeiras divertidas da infância, na entrega ao riso fácil quando se desarmam as defesas. Na procura pelo segredo que jamais deveria ter sido revelado. Cuidado, lá se esconde o terror. Como se livrar dele?
A maldição, para alguns, deve arder na fogueira. Para outros, é preciso punir o mal, enfrentando aqueles que causam tristeza, morte e dor. Não importa. Herege ou bruxo, demônio ou santo, quem encontrar a resposta poderá ser a próxima ameaça a ser controlada.
Estão com medo… Por que ainda temem, se já embarcaram e não há mais nada a fazer? Já sentiram isso antes? Certamente, porque aqui estão. Então, prossigam… Vençam suas batalhas, enfrentem suas assombrações. Mas sem esquecer que elas voltam, sempre voltam… Por mais que vocês tentem se livrar, elas querem vingança e não desistirão. A maldição nunca será vencida, ela não termina, ressurge quando já não mais se acredita que possa existir. Vocês podem até se esconder e rezar. Mas não vão escapar. Quando a extinção termina, o desafio começa. Seres pré-históricos, violentos, abomináveis. Tenham medo, porque esse pode ser o último mergulho… Talvez eles sequer estejam vivos. Muito além da morte e da imaginação, haverá uma aventura que viverá por toda a eternidade. Sobrevivam a ela, se forem capazes. E, se não forem, peçam ajuda.
Podem acreditar que estarei sempre ao lado, espreitando… Aguardando o momento em que, exaustos, vocês desistirão. E se entregarão, sem luta, à impossibilidade.
Não sentem a brisa quente e o perfume delicioso dos frutos, só o calor sufocante? Desejam o descanso da longa travessia? Sofram, então, porque não é possível voltar. Esta viagem não tem retorno. Em pouco tempo, sentirão o peso dos grilhões, a dor da chibata, o sofrimento do exílio, o desejo pela liberdade.
Mas o que está acontecendo aqui? Não me obedecem? Por que continuam a resistir, se não haverá um só homem de pé que possa testemunhar tanta bravura? Todos irão comigo e desaparecerão. Novos tormentos virão, crueldade, ignorância, estupidez. Não querem aceitar o domínio? Não desistem jamais? Lutam contra a opressão, querem voltar para casa? Caminham juntos, aos milhares, aonde irão? Não percebem que não adianta? Ninguém voltou jamais, acreditem! Que força é essa a que assisto sem nada poder fazer? Como trazê-los de volta ao pesadelo? Pareciam tão frágeis ao menor sinal de tempestade, e, no entanto, renascem! Afinal, o que os assusta realmente? Pareciam mortos de medo, incapazes de reagir e, agora… Como ousam? Me enganam e zombam de mim? Para onde estávamos indo? Não podemos mais voltar porque, enfim, chegamos. Aqui estamos. Esperavam por nós.
E vocês se divertiam comigo esse tempo todo, não? Então, me enganavam? Mudavam sem que eu percebesse? Só agora entendi que me conduziam, faziam de mim personagem de um filme em que eu não poderia decidir o final. Nas telas ou na vida real, dominam a arte do começo sem fim. Recomeço. Aí estão, deixando para o futuro a ousadia de um passado sem medo. E, a cada ano, surgem novos personagens, novas histórias de lutas e glórias. De simplicidade e força. Porque têm a certeza de que o que está na outra margem é mais um motivo para eternizar a vida. A história de um povo de coragem, que possui o surpreendente poder de se reinventar. Fim?
Paulo Barros, Isabel Azevedo, Ana Paula Trindade e Simone Martins
GRES Unidos de Vila Isabel
Mitos e histórias entrelaçadas pelos fios de cabelo
Sinopse:
Os cabelos têm valores simbólicos. O universo teve começo, segundo a tradição indiana, através da tecedura dos cabelos de SHIVA é ainda, nessa mesma cultura, os cabelos soltos são características de divindades terríveis como VAYU, o vento, e também com Ganga, o rio Ganges, manifestação da divindade acima mencionada, que flui de sua coroa de cabelos emaranhados.
Na China, os cabelos dispostos ao redor da cabeça representam o sol. E, também podem ser símbolos de sacrifício como T'ang, que ofereceu seus cabelos em sacrifício pelo seu povo. Assim, essa representações extrapolam o limite do ser humano, expandindo-se através do universo da simbologia cósmiza.
Os índios Hopi do Arizona acreditavam que o corte do cabelo tinha que ser feito de maneira coletiva, durante as festas de solstício de inverno, para não perderem a força vital.
O primeiro corte de cabelo do Príncipe Herdeiro dos Incas coincidia com o momento em que era desmamado ao completar dois anos de idade. No mesmo momento em que cortava o cabelo, recebia o nome, tornando-se uma pessoa, fato que acontecia numa grande festa coletiva.
Um caso individual da força do cabelo é a história bíblica de Sansão e Dalila. Ao contrário das histórias relatadas nos dois parágrafos acima, Sansão perdeu os poderes quando lhe cortaram os cabelos.
As tranças e os cabelos longuíssimos têm como simbolismo a submissão. A trança dos chineses, a das mulheres russas, e, até mesmo, a de Rapunzel da lenda de Grimm provam este fato. Porém, podem ser também símbolos de salvação como a de Lady Godiva, que se vestiu só com seus longos cabelos e livrou seu povo dos pesados impostos.
As perucas foram adotadas por várias razões. Os egípcios, por exemplo, raspavam a cabeça por higiene e usavam perucas para se embelezar. Até mesmo as barbas dos faraós eram postiças. Cleópatra tinha todo tipo de jóias incrustadas nas suas perucas.
Luís XIV, o Rei Sol, possuía também uma grande coleção, que era cuidadosamente tratada e cacheada.
No afã de agradar ao Rei de França Luis XVI, as damas da corte se exibiam, cada qual, com apliques cada vez mais extraordinários. Alguns recebiam vasos para flores naturais, cheios d'água, outros pássaros voando recebiam vasos para flores naturais, cheios d'água, outros pássaros voando presos por fios de seda. Havia também aqueles com tendas militares e canhões, navios, mobília completa de sala e de quarto, jardins floridos, exemplos de algumas das decorações inventadas por essas damas, que a tudo se submetiam, muito bem empoados com farinha, que possivelmente fazia falta ao povo faminto.
No Brasil, muito ouro de Minas foi desviado pelos cabelos fofos dos escravos e escravas, e era usado para pagamento de alforria dos negros, para seus adornos filigranados e para decoração das suas igrejas.
No Rio de Janeiro do século XIX eram os escravos de ganho que exerciam as atividades de barbeiro e cabeleireiro. Também acumulavam as funções de vendedores de pentes e remendavam as meias de seda. Mais tarde, chegaram os cabeleireiros franceses para a alegria das damas de então.
E, nos remetemos ainda à trança que abalou a Rua do Ouvidor, exposta em uma vitrine de loja de cabeleireiro. Ela foi muito admirada por sua extensão. Depois de muita especulação soube-se que era de uma mineira, que tinha fortes dores de cabeça, por usar essa trança de mais de dois metros de comprimento, e o médico a aconselhou a cortá-la, tendo assim curado a sua mazela.
Mami Wata, figura mítica africana, possuía numa mesma cabeleira invejável, todos os tipos de cabelo: lisos, crespos, ondulados, carapinha, loiros, morenos e ruivos.
A Vênus Romana inspirou as "Vênus" loiríssimas do século XX, como Marilyn Monroe.
Mas, Lamartine Babo na sua sabedoria, democraticamente, exaltou as morenas, as mulatas, as ruivas, e as loirinhas, todas naturalmente com lindos cabelos escovados, tratados, brilhantes e vitaminados.
Os cabelos têm valores simbólicos. O universo teve começo, segundo a tradição indiana, através da tecedura dos cabelos de SHIVA é ainda, nessa mesma cultura, os cabelos soltos são características de divindades terríveis como VAYU, o vento, e também com Ganga, o rio Ganges, manifestação da divindade acima mencionada, que flui de sua coroa de cabelos emaranhados.
Na China, os cabelos dispostos ao redor da cabeça representam o sol. E, também podem ser símbolos de sacrifício como T'ang, que ofereceu seus cabelos em sacrifício pelo seu povo. Assim, essa representações extrapolam o limite do ser humano, expandindo-se através do universo da simbologia cósmiza.
Os índios Hopi do Arizona acreditavam que o corte do cabelo tinha que ser feito de maneira coletiva, durante as festas de solstício de inverno, para não perderem a força vital.
O primeiro corte de cabelo do Príncipe Herdeiro dos Incas coincidia com o momento em que era desmamado ao completar dois anos de idade. No mesmo momento em que cortava o cabelo, recebia o nome, tornando-se uma pessoa, fato que acontecia numa grande festa coletiva.
Um caso individual da força do cabelo é a história bíblica de Sansão e Dalila. Ao contrário das histórias relatadas nos dois parágrafos acima, Sansão perdeu os poderes quando lhe cortaram os cabelos.
As tranças e os cabelos longuíssimos têm como simbolismo a submissão. A trança dos chineses, a das mulheres russas, e, até mesmo, a de Rapunzel da lenda de Grimm provam este fato. Porém, podem ser também símbolos de salvação como a de Lady Godiva, que se vestiu só com seus longos cabelos e livrou seu povo dos pesados impostos.
As perucas foram adotadas por várias razões. Os egípcios, por exemplo, raspavam a cabeça por higiene e usavam perucas para se embelezar. Até mesmo as barbas dos faraós eram postiças. Cleópatra tinha todo tipo de jóias incrustadas nas suas perucas.
Luís XIV, o Rei Sol, possuía também uma grande coleção, que era cuidadosamente tratada e cacheada.
No afã de agradar ao Rei de França Luis XVI, as damas da corte se exibiam, cada qual, com apliques cada vez mais extraordinários. Alguns recebiam vasos para flores naturais, cheios d'água, outros pássaros voando recebiam vasos para flores naturais, cheios d'água, outros pássaros voando presos por fios de seda. Havia também aqueles com tendas militares e canhões, navios, mobília completa de sala e de quarto, jardins floridos, exemplos de algumas das decorações inventadas por essas damas, que a tudo se submetiam, muito bem empoados com farinha, que possivelmente fazia falta ao povo faminto.
No Brasil, muito ouro de Minas foi desviado pelos cabelos fofos dos escravos e escravas, e era usado para pagamento de alforria dos negros, para seus adornos filigranados e para decoração das suas igrejas.
No Rio de Janeiro do século XIX eram os escravos de ganho que exerciam as atividades de barbeiro e cabeleireiro. Também acumulavam as funções de vendedores de pentes e remendavam as meias de seda. Mais tarde, chegaram os cabeleireiros franceses para a alegria das damas de então.
E, nos remetemos ainda à trança que abalou a Rua do Ouvidor, exposta em uma vitrine de loja de cabeleireiro. Ela foi muito admirada por sua extensão. Depois de muita especulação soube-se que era de uma mineira, que tinha fortes dores de cabeça, por usar essa trança de mais de dois metros de comprimento, e o médico a aconselhou a cortá-la, tendo assim curado a sua mazela.
Mami Wata, figura mítica africana, possuía numa mesma cabeleira invejável, todos os tipos de cabelo: lisos, crespos, ondulados, carapinha, loiros, morenos e ruivos.
A Vênus Romana inspirou as "Vênus" loiríssimas do século XX, como Marilyn Monroe.
Mas, Lamartine Babo na sua sabedoria, democraticamente, exaltou as morenas, as mulatas, as ruivas, e as loirinhas, todas naturalmente com lindos cabelos escovados, tratados, brilhantes e vitaminados.
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Autores do enredo: Rosa Magalhães e Alex Varela (Historiador)
Autores do enredo: Rosa Magalhães e Alex Varela (Historiador)
GRES Estação Primeira de Mangueira
O filho fiel, sempre Mangueira
A Mangueira me chama, eu vou
Sempre fui o seu defensor
Sou um filho fiel
Á Mangueira eu tenho amor
Foi a Mangueira quem me deu apoio e fama
Até hoje ela me ama
Agora vieram me dizer
Que a Mangueira me quer ver quer me ver
(A Mangueira me chama)
A Estação Primeira de Mangueira pede passagem para afirmar, em plena Marquês de Sapucaí, que um dos maiores baluartes da sua história, Nelson Antônio da Silva, o nosso Nelson Cavaquinho, que completaria 100 anos de nascimento em 2011, está vivo e comparece a Marquês de Sapucaí, com o seu talento e a sua poesia, para dizer que o Rio de Janeiro é esta festa de criatividade porque tem filhos como ele.
E pede passagem também para contar o belo caso de amor envolvendo o poeta e a nossa comunidade. Um caso de amor que começou na década de 1930, quando Nelson Cavaquinho, carioca nascido nas proximidades da Praça da Bandeira, apareceu no Morro de Mangueira na condição de soldado da Polícia Militar, atividade que exercia por influência do pai, Brás Antônio da Silva, tocador de tuba e contramestre da banda de música da PM. Mas, desde menino, Nelson tocava cavaquinho - e passou logo a ser conhecido como Nelson Cavaquinho - e fazia sambas e choros, razão pelo qual aproximou-se imediatamente de Cartola (seu amigo e ídolo), Carlos Cachaça, Zé Com Fome, Alfredo Português e Zé da Zilda. Quis o destino que ele, montado em seu cavalo, tomasse o rumo da Mangueira. "Buraco quente", "Pendura saia", "Olaria" e "Chalé" passaram a ser uma espécie de extensão da casa dele, um quintal do poeta.
Quem havia sido designado a cuidar da ordem estava envolvido na boemia e atraído pelo charme e calor de um morro que se consagrava como o mais rico canteiro de cultura popular da nossa cidade. Foi nessa época que Nelson trocou o cavaquinho pelo violão, um instrumento, por sinal, que tocava num estilo absolutamente original, com a utilização apenas do polegar e do indicador da mão direita. A troca de instrumento, porém, não alterou o pseudônimo que o consagrou, pois permanece Nelson Cavaquinho até agora, quando comemoramos um século do seu nascimento.
A boemia fez dele um personagem de grande destaque nas noites do Rio de Janeiro e também pela convivência com a fina-flor do samba mangueirense. Ele sempre impressionou os apreciadores da música popular brasileira pela capacidade de compor letras e músicas tão sofisticadas que chega a ser inacreditável que aquele homem tão simples fosse capaz de criar obras tão sofisticadas, trabalhando sozinho ou com o seu excelente parceiro Guilherme de Brito…
Nelson Cavaquinho e Cartola viveram uma experiência de grande importância na história do samba do Rio de Janeiro, quando ambos, ao lado de Zé Kéti, eram as atrações principais do Zicartola - a primeira casa de samba do Brasil e responsável pela projeção de novos valores da nossa música - Paulinho da Viola, por exemplo - e pelo retorno de sambistas que raramente se apresentavam em público, como Ismael Silva. Foi ouvindo os sambas cantados no Zicartola que Nara Leão, até então considerada a musa da Bossa Nova, decidiu gravar o seu primeiro disco com as obras daqueles compositores.
A partir do Zicartola, o Rio de Janeiro foi contemplado com a moda das rodas de sambas, com destaque para as Noitadas de Samba do Teatro Opinião. Todas as segundas-feiras apresentavam Nelson Cavaquinho como atração principal. Numa dessas noitadas conheceu a cantora Beth Carvalho.
Beth era uma menina da Zona Sul, que ia todas as segundas no teatro Opinião ver Nelson cantar. O poeta ficara muito impressionado, pois a menina sabia tudo do seu repertório… De admiradora e fã, virou sua principal intérprete e querida amiga. Assumiu, imediatamente, a condição de sua principal intérprete, incluindo um samba dele em cada disco que gravava, até que gravou um CD totalmente tomado por obras do extraordinário compositor. "Folhas secas", por exemplo, foi uma espécie de presente da dupla Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito para Beth Carvalho.
A Estação Primeira pretende apresentar um retrato de Nelson Cavaquinho, chamado algumas vezes de "o trovador dos aflitos". Mulheres, botequins, dor de cotovelo e até a morte são temas predominantes nos seus sambas. Certa vez, não permitiu que o relógio da sua casa passasse das duas horas da madrugada, porque sonhara que morreria naquela noite, às três horas da manhã. Nelson sempre conviveu com a fatalidade e, por isso, sua poesia é marcada pela melancolia.
Compunha com intensa paixão para os solitários dos bares, para as mulheres sem alma, para os errantes e plebeus da noite.
Apresentamos também o boêmio de um profissionalismo um tanto ou quanto estranho, pois era capaz de pagar com músicas as compras de comestíveis para sua casa. Portanto, saibam todos que alguns dos parceiros desconhecidos, cujos nomes aparecem em suas músicas, são, na verdade, pequenos comerciantes ou feirantes e fornecedores de gêneros alimentícios para sua família. Quando estava sem dinheiro, ia até a Praça Tiradentes e vendia o produto que melhor sabia fazer, seus sambas. César Brasil, um de seus "parceiros", era gerente de um velho hotel, no Centro do Rio de Janeiro, e incapaz de compor um verso ou de tocar uma nota, em qualquer instrumento, mas entrou para a história como um dos autores de um dos mais belos samba do gênio: "Degraus da vida". Foi na Praça Tiradentes, também, que conheceu Lygia. Uma mulher sem teto e que se tornara sua companheira de copo. Nelson a considerava tanto que tatuou seu nome no braço. Muitos o criticaram por isso, então, compôs: "Muita gente tem o corpo tão bonito e a alma toda tatuada" (Tatuagem).
Enfim, apresentamos Nelson Cavaquinho ao grand complet, chamando atenção, naturalmente, para o grande caso de amor entre ele e a Mangueira, um caso que o grande compositor fazia questão de tornar público. Agora, o morro que ele tanto subiu é que desce para exaltar sua vida e sua obra. E cada componente da nossa escola vai viver intensamente a sua vida, beber da sua obra e louvar a sua alma boêmia. Seremos uma só voz! Empunhando uma só bandeira! Estação Primeira de Mangueira, com muita emoção e garra, anuncia por quem dobram os surdos de primeira.
Na manhã do dia 18 de fevereiro de 1986, aos 75 anos, morreu o homem, mas o poeta vive! Então vem, Nelson! Vem receber as "flores em vida"! Você, que sempre fora um Filho Fiel, a Mangueira o chama mais uma vez! E agora é para sempre, por que de hoje em diante, nunca mais você será chamado de saudade.
…Mas depois que o tempo passar, sei que ninguém
vai se lembrar que eu fui embora
(Quando eu me chamar saudade)
Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola…
(Folhas secas)
Em Mangueira
Quando morre um poeta todos choram
Vivo tranqüilo em Mangueira porque sei
Que alguém há de chorar quando eu morrer
(Pranto de um poeta)
Finjo-me alegre, pro meu pranto ninguém ver
Feliz àquele que sabe sofrer
(Rugas)
Sei que a maior herança que tenho na vida, é meu
coração, amigo dos aflitos
Sei que não perco nada em pensar assim
Porque amanhã não sei o que será de mim
(Caridade)
Mas o sambista vive eternamente no coração da gente
Os versos de Mangueira são modestos
Mas há sempre força de expressão…
Ô, foi Mangueira que chegou
(Sempre Mangueira)
Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar
com a minha dor… Hoje pra você eu sou espinho…
Espinho não machuca a flor
(A Flor e o Espinho)
Vingança, meu amigo eu não quero vingança.
Os meus cabelos brancos me obrigam
a perdoar uma criança
(Notícia)
Do mal será queimada a semente…
O amor será eterno novamente
(Juízo Final)
Sei que estou no último degrau da vida, meu amor
Já estou envelhecido, acabado
Por isso muito eu tenho chorado
(Degraus da vida)
Fui tão bom pra ela, dei meu nome a ela
Tudo no princípio eram flores
Sem saber que eu era demais, entre seus amores.
(Mulher sem alma)
Graças a Deus minha vida mudou! Quem me viu,
quem me vê a tristeza acabou
(Minha Festa)
Nesse mundo de Deus tudo pode acontecer
Porque que eu não posso
Te esquecer?
(Aceito teu adeus)
E quando vejo a torre bem alta,
Daquela linda catedral,
Fujo de tua amizade, infernal.
(Devia ser condenada)
Levantei-me da cama, sem poder
Até hoje ninguém veio me ver
Fui amigo enquanto eu tive dinheiro
Hoje eu não tenho companheiro
(Dona Carola)
A luz negra de um destino cruel
Ilumina um teatro sem cor
Onde estou representando um papel
De palhaço do amor....
(Luz Negra)
Você tendo vida, saúde e dinheiro
Todos lhe querem muito bem
Mas se você fracassar
Pode Ter a certeza
Que ninguém vai lhe procurar
(Nem todos são amigos)
Vamos pra bem longe da maldade
Deus que nos guie
Em direção à bondade
(Tenha paciência)
Vou partir não sei si voltarei...
tu não me queiras mal
hoje é carnaval
(Vou partir)
Vou sair daqui
Seu caso cheira à vela
Quem está te olhando é o marido dela
(Cheira à vela)
Quando eu passo perto das flores
Quase elas dizem assim:
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim
(Eu e as flores)
Meu coração é terra que ninguém passeia
Tu és igual a quem traiu Jesus na Ceia
Sou companheiro
Não mereço ser trocado por dinheiro
(Minha honestidade vale ouro)
Deus, Nosso Senhor, devia castigar
O infeliz que faz uma mulher chora
(Nome sagrado)
Sei que choras palhaço
Por alguém que não lhe ama
Faça a platéia gargalhar
Um palhaço não deve chorar
(Palhaço)
Meu reinado é cheio de ilusão
E ninguém de mim tem compaixão
(Rei vagabundo)
Noites eu varei
Mas cada amor me fez um rei
Um rei vadio…
(Rei vadio)
Passei a mocidade esperando dar-te um beijo
Eu sei que agora é tarde, mas matei o meu desejo
É pena que os lábios gelados como os teus
Não sinta o calor que eu conservei nos lábios meus
(Depois da vida)
Hoje não é dia 1º de abril
Com essa cara, outra vez, você mentiu
Por favor, não faça isso, mais
Se outra vez você mentir eu sei do que serei capaz
(1º de abril)
Já vem a saudade outra vez me visitar
Que visita triste, só me faz chorar
Para ninguém ver o meu pranto
Boa noite para todos! Eu vou me retirar
(Visita triste)
Sempre fui o seu defensor
Sou um filho fiel
Á Mangueira eu tenho amor
Foi a Mangueira quem me deu apoio e fama
Até hoje ela me ama
Agora vieram me dizer
Que a Mangueira me quer ver quer me ver
(A Mangueira me chama)
A Estação Primeira de Mangueira pede passagem para afirmar, em plena Marquês de Sapucaí, que um dos maiores baluartes da sua história, Nelson Antônio da Silva, o nosso Nelson Cavaquinho, que completaria 100 anos de nascimento em 2011, está vivo e comparece a Marquês de Sapucaí, com o seu talento e a sua poesia, para dizer que o Rio de Janeiro é esta festa de criatividade porque tem filhos como ele.
E pede passagem também para contar o belo caso de amor envolvendo o poeta e a nossa comunidade. Um caso de amor que começou na década de 1930, quando Nelson Cavaquinho, carioca nascido nas proximidades da Praça da Bandeira, apareceu no Morro de Mangueira na condição de soldado da Polícia Militar, atividade que exercia por influência do pai, Brás Antônio da Silva, tocador de tuba e contramestre da banda de música da PM. Mas, desde menino, Nelson tocava cavaquinho - e passou logo a ser conhecido como Nelson Cavaquinho - e fazia sambas e choros, razão pelo qual aproximou-se imediatamente de Cartola (seu amigo e ídolo), Carlos Cachaça, Zé Com Fome, Alfredo Português e Zé da Zilda. Quis o destino que ele, montado em seu cavalo, tomasse o rumo da Mangueira. "Buraco quente", "Pendura saia", "Olaria" e "Chalé" passaram a ser uma espécie de extensão da casa dele, um quintal do poeta.
Quem havia sido designado a cuidar da ordem estava envolvido na boemia e atraído pelo charme e calor de um morro que se consagrava como o mais rico canteiro de cultura popular da nossa cidade. Foi nessa época que Nelson trocou o cavaquinho pelo violão, um instrumento, por sinal, que tocava num estilo absolutamente original, com a utilização apenas do polegar e do indicador da mão direita. A troca de instrumento, porém, não alterou o pseudônimo que o consagrou, pois permanece Nelson Cavaquinho até agora, quando comemoramos um século do seu nascimento.
A boemia fez dele um personagem de grande destaque nas noites do Rio de Janeiro e também pela convivência com a fina-flor do samba mangueirense. Ele sempre impressionou os apreciadores da música popular brasileira pela capacidade de compor letras e músicas tão sofisticadas que chega a ser inacreditável que aquele homem tão simples fosse capaz de criar obras tão sofisticadas, trabalhando sozinho ou com o seu excelente parceiro Guilherme de Brito…
Nelson Cavaquinho e Cartola viveram uma experiência de grande importância na história do samba do Rio de Janeiro, quando ambos, ao lado de Zé Kéti, eram as atrações principais do Zicartola - a primeira casa de samba do Brasil e responsável pela projeção de novos valores da nossa música - Paulinho da Viola, por exemplo - e pelo retorno de sambistas que raramente se apresentavam em público, como Ismael Silva. Foi ouvindo os sambas cantados no Zicartola que Nara Leão, até então considerada a musa da Bossa Nova, decidiu gravar o seu primeiro disco com as obras daqueles compositores.
A partir do Zicartola, o Rio de Janeiro foi contemplado com a moda das rodas de sambas, com destaque para as Noitadas de Samba do Teatro Opinião. Todas as segundas-feiras apresentavam Nelson Cavaquinho como atração principal. Numa dessas noitadas conheceu a cantora Beth Carvalho.
Beth era uma menina da Zona Sul, que ia todas as segundas no teatro Opinião ver Nelson cantar. O poeta ficara muito impressionado, pois a menina sabia tudo do seu repertório… De admiradora e fã, virou sua principal intérprete e querida amiga. Assumiu, imediatamente, a condição de sua principal intérprete, incluindo um samba dele em cada disco que gravava, até que gravou um CD totalmente tomado por obras do extraordinário compositor. "Folhas secas", por exemplo, foi uma espécie de presente da dupla Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito para Beth Carvalho.
A Estação Primeira pretende apresentar um retrato de Nelson Cavaquinho, chamado algumas vezes de "o trovador dos aflitos". Mulheres, botequins, dor de cotovelo e até a morte são temas predominantes nos seus sambas. Certa vez, não permitiu que o relógio da sua casa passasse das duas horas da madrugada, porque sonhara que morreria naquela noite, às três horas da manhã. Nelson sempre conviveu com a fatalidade e, por isso, sua poesia é marcada pela melancolia.
Compunha com intensa paixão para os solitários dos bares, para as mulheres sem alma, para os errantes e plebeus da noite.
Apresentamos também o boêmio de um profissionalismo um tanto ou quanto estranho, pois era capaz de pagar com músicas as compras de comestíveis para sua casa. Portanto, saibam todos que alguns dos parceiros desconhecidos, cujos nomes aparecem em suas músicas, são, na verdade, pequenos comerciantes ou feirantes e fornecedores de gêneros alimentícios para sua família. Quando estava sem dinheiro, ia até a Praça Tiradentes e vendia o produto que melhor sabia fazer, seus sambas. César Brasil, um de seus "parceiros", era gerente de um velho hotel, no Centro do Rio de Janeiro, e incapaz de compor um verso ou de tocar uma nota, em qualquer instrumento, mas entrou para a história como um dos autores de um dos mais belos samba do gênio: "Degraus da vida". Foi na Praça Tiradentes, também, que conheceu Lygia. Uma mulher sem teto e que se tornara sua companheira de copo. Nelson a considerava tanto que tatuou seu nome no braço. Muitos o criticaram por isso, então, compôs: "Muita gente tem o corpo tão bonito e a alma toda tatuada" (Tatuagem).
Enfim, apresentamos Nelson Cavaquinho ao grand complet, chamando atenção, naturalmente, para o grande caso de amor entre ele e a Mangueira, um caso que o grande compositor fazia questão de tornar público. Agora, o morro que ele tanto subiu é que desce para exaltar sua vida e sua obra. E cada componente da nossa escola vai viver intensamente a sua vida, beber da sua obra e louvar a sua alma boêmia. Seremos uma só voz! Empunhando uma só bandeira! Estação Primeira de Mangueira, com muita emoção e garra, anuncia por quem dobram os surdos de primeira.
Na manhã do dia 18 de fevereiro de 1986, aos 75 anos, morreu o homem, mas o poeta vive! Então vem, Nelson! Vem receber as "flores em vida"! Você, que sempre fora um Filho Fiel, a Mangueira o chama mais uma vez! E agora é para sempre, por que de hoje em diante, nunca mais você será chamado de saudade.
…Mas depois que o tempo passar, sei que ninguém
vai se lembrar que eu fui embora
(Quando eu me chamar saudade)
Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola…
(Folhas secas)
Em Mangueira
Quando morre um poeta todos choram
Vivo tranqüilo em Mangueira porque sei
Que alguém há de chorar quando eu morrer
(Pranto de um poeta)
Finjo-me alegre, pro meu pranto ninguém ver
Feliz àquele que sabe sofrer
(Rugas)
Sei que a maior herança que tenho na vida, é meu
coração, amigo dos aflitos
Sei que não perco nada em pensar assim
Porque amanhã não sei o que será de mim
(Caridade)
Mas o sambista vive eternamente no coração da gente
Os versos de Mangueira são modestos
Mas há sempre força de expressão…
Ô, foi Mangueira que chegou
(Sempre Mangueira)
Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar
com a minha dor… Hoje pra você eu sou espinho…
Espinho não machuca a flor
(A Flor e o Espinho)
Vingança, meu amigo eu não quero vingança.
Os meus cabelos brancos me obrigam
a perdoar uma criança
(Notícia)
Do mal será queimada a semente…
O amor será eterno novamente
(Juízo Final)
Sei que estou no último degrau da vida, meu amor
Já estou envelhecido, acabado
Por isso muito eu tenho chorado
(Degraus da vida)
Fui tão bom pra ela, dei meu nome a ela
Tudo no princípio eram flores
Sem saber que eu era demais, entre seus amores.
(Mulher sem alma)
Graças a Deus minha vida mudou! Quem me viu,
quem me vê a tristeza acabou
(Minha Festa)
Nesse mundo de Deus tudo pode acontecer
Porque que eu não posso
Te esquecer?
(Aceito teu adeus)
E quando vejo a torre bem alta,
Daquela linda catedral,
Fujo de tua amizade, infernal.
(Devia ser condenada)
Levantei-me da cama, sem poder
Até hoje ninguém veio me ver
Fui amigo enquanto eu tive dinheiro
Hoje eu não tenho companheiro
(Dona Carola)
A luz negra de um destino cruel
Ilumina um teatro sem cor
Onde estou representando um papel
De palhaço do amor....
(Luz Negra)
Você tendo vida, saúde e dinheiro
Todos lhe querem muito bem
Mas se você fracassar
Pode Ter a certeza
Que ninguém vai lhe procurar
(Nem todos são amigos)
Vamos pra bem longe da maldade
Deus que nos guie
Em direção à bondade
(Tenha paciência)
Vou partir não sei si voltarei...
tu não me queiras mal
hoje é carnaval
(Vou partir)
Vou sair daqui
Seu caso cheira à vela
Quem está te olhando é o marido dela
(Cheira à vela)
Quando eu passo perto das flores
Quase elas dizem assim:
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim
(Eu e as flores)
Meu coração é terra que ninguém passeia
Tu és igual a quem traiu Jesus na Ceia
Sou companheiro
Não mereço ser trocado por dinheiro
(Minha honestidade vale ouro)
Deus, Nosso Senhor, devia castigar
O infeliz que faz uma mulher chora
(Nome sagrado)
Sei que choras palhaço
Por alguém que não lhe ama
Faça a platéia gargalhar
Um palhaço não deve chorar
(Palhaço)
Meu reinado é cheio de ilusão
E ninguém de mim tem compaixão
(Rei vagabundo)
Noites eu varei
Mas cada amor me fez um rei
Um rei vadio…
(Rei vadio)
Passei a mocidade esperando dar-te um beijo
Eu sei que agora é tarde, mas matei o meu desejo
É pena que os lábios gelados como os teus
Não sinta o calor que eu conservei nos lábios meus
(Depois da vida)
Hoje não é dia 1º de abril
Com essa cara, outra vez, você mentiu
Por favor, não faça isso, mais
Se outra vez você mentir eu sei do que serei capaz
(1º de abril)
Já vem a saudade outra vez me visitar
Que visita triste, só me faz chorar
Para ninguém ver o meu pranto
Boa noite para todos! Eu vou me retirar
(Visita triste)